O rapaz que deu chilique em rede social, num ataque criminoso a uma jornalista, deve ter adoração pelo prefeito de Maceió, João Henrique Caldas. Só isso explica a fúria do radialista Rodrigo Veridiano contra Géssika Costa, a vítima do fanfarrão. O caso é destaque na imprensa, e você pode conferir os detalhes aqui no CM. Tudo começou com um comentário da jornalista sobre a árvore de Natal de JHC na orla marítima.

Em publicação no Instagram, a profissional fez referência ao afundamento dos bairros da capital, a tragédia urbana provocada pelas atividades da Braskem. Como se sabe, a situação que afetou milhares de famílias rendeu à prefeitura um repasse bilionário. Hoje, os bairros estão sob a gestão da empresa que provocou a calamidade.

Não há dúvida quanto ao teor do ataque do valentão Veridiano – é misoginia em estado bruto. Não vou repetir aqui os termos repugnantes de sua publicação. É um espetáculo de ódio contra uma mulher. Fosse um homem o autor da crítica, tenho certeza de que a reação desse rapaz seria de mansidão. É um recorrente padrão de conduta.

O caso reafirma comportamento tão óbvio quanto delinquente. No embate com uma mulher, o elemento recorre automaticamente à gramática sexualizada. É um fetiche na cabeça de machinhos histéricos – desde que o alvo, reitero, seja da ala feminina. Vemos essa postura torpe nos ambientes de poder, como no parlamento brasileiro.    

Radialista e professor de História, o autor da infâmia foi afastado da página na rede social em que atuava (pelo visto seu trabalho era bajular a prefeitura). Também está fora de um canal de esporte no YouTube no qual exibia suas qualidades intelectuais. Os dois veículos divulgaram notas de repúdio às palavras do até então colaborador.

Até o começo da noite desta sexta-feira, o senhor Veridiano não havia se manifestado sobre seu comportamento abjeto. O Sindicato dos Jornalistas e outras entidades condenaram o episódio e saíram em defesa de Géssika Costa. O caso não pode passar batido, sob o risco de reforçarmos a “naturalidade” da violência contra as mulheres.

Cabe ação judicial, porque misoginia é crime – e uma perigosa via para o feminicídio. Denunciar situações como essa é obrigação de todos. É uma batalha sem fim (e ingrata), mas não se deve transigir com aberrações que agridem a dignidade humana.