O discurso de Bolsonaro na avenida Paulista foi didático. Ele quer, em suas palavras, “metade da Câmara e metade do Senado” para, a partir de janeiro de 2027, comandar um governo paralelo. Para isso, basta o eleitor cravar nas urnas de 2026 os candidatos da ultradireita. Diante da repercussão, o ex-presidente usou as redes para negar o inegável. É que suas ideias assustaram até aliados da “direita civilizada”. Daí ele recuou.

Ao especular sobre esse futuro venturoso para si mesmo, ele deixou claro que pretende atropelar qualquer um que seja eleito – ou seja, incluindo os da sua turma. Mas aí como seria um governo de Tarcísio de Freitas, com Bolsonaro mandando em metade do Congresso Nacional? O “bolsonarista moderado” seria um pau mandado no Planalto?

Não se sabe se o desmentido de Jair mostra mais preocupação com os poderes da República ou com sua base eleitoral. No primeiro caso, ele atende os advogados, no folclore do sempre joguei dentro das quatro linhas. Réu no STF, ele tem de fingir apreço pela democracia. Afinal, está denunciado por tentativa de golpe.

O segundo aspecto, na verdade já mencionado, sacode meio mundo de lideranças e os pré-candidatos à direita que estão na praça. Além do governador paulista, as falas de Bolsonaro atropelam os também governadores Romeu Zema, Ronaldo Caiado e Ratinho Junior. Todos são cobrados a demonstrar vassalagem incondicional ao “mito”.

A ideia de Bolsonaro não veio do nada. Os vídeos estão na internet. Em cima do trio elétrico, ele está à vontade para dar detalhes sobre “ganhar” cinquenta por cento do parlamento do país. A desenvoltura do inelegível é reveladora de suas intenções. De novo: pegou tão mal que ele tenta jogar a culpa na maldita imprensa.   

Dia desses, Flávio Bolsonaro deu uma entrevista à Folha na mesma linha do pai. Ou ganha um candidato da família para romper com as instituições, ou haverá uma “solução de força”. A expressão foi dita assim, na maior naturalidade, como se o senador estivesse falando de articulações políticas. É pregação contra o Estado de Direito.

Como se nota com bastante nitidez, uma alma golpista jamais terá recuperação. Pai e filhos, arrivistas na baixa política, foram e sempre serão dessa estirpe. Bolsonaro não está no banco dos réus por decorrência de variações climáticas. Viúva da ditadura de 64, o projeto de seus sonhos vai sendo eliminado. Falta apenas a sentença no STF.