Forma superior de arte, segundo Fernanda Torres, os memes estremeceram aquela empáfia paroquiana de Hugo Motta. O presidente da Câmara dos Deputados acusou o golpe. Depois de comandar o tratoraço contra o projeto do Executivo sobre tarifas do IOF, o parlamentar paraibano foi destroçado no maquinário das redes sociais. A #Congressoinimigodopovo galopou os quatro cantos do metaverso.

Além dos aspectos técnicos e políticos inerentes ao tema, o episódio atesta os efeitos de uma guerra virtual. Se viraliza, alguma coisa acontece. Nesse caso, veio o estrago na imagem de Motta – e, ainda mais relevante, um desastre no baixíssimo conceito do Congresso Nacional. Votam com os ricos, desprezam o povaréu. É a mensagem no ar.

E é mais ou menos essa a ideia que prevaleceu na alta de audiência, pelas redes de todos os tipos. Num dos memes, Hugo Motta aparece sentado numa montanha de dinheiro, pregando o “corte de gastos” nos programas sociais. Dessa vez é a direita que está sob forte ataque, ao contrário do que predomina desde sempre no ambiente digital.

Incomodado, e muito, com a zoeira contra sua conduta, o presidente da Câmara acusa o governo de incitar “polarização social”. Tenta se desvencilhar do papel de ricaço que esfola pobres e miseráveis. Foi assim, dessa forma direta e panfletária, que ele ganhou destaque após a jogada com o IOF. Não se sabe se pretende novo revide.

O governo diz que não, mas os discursos apontam o contrário. Sim, até o presidente Lula vai na linha Congresso inimigo do povo. Com outras palavras, é claro, aliados reforçam a fala do presidente e do ministro Fernando Haddad. É ação coordenada.

Décadas atrás, nos primeiros governos Lula, o petismo era acusado de promover o “nós contra eles”, o povo contra as elites, a divisão da sociedade brasileira. E hoje? A bagaceira a que chegamos faz o antigo “radicalismo” parecer aventuras no campo.

Como sempre, vereditos no calor da hora costumam exagerar. Lula e governo de um lado, e Motta, Davi Alcolumbre e o Congresso, na outra ponta, vão se ajustar enquanto o barco balança mais agitado. Por enquanto, trocam socos de telechanchada.

Para encerrar, o imbatível ministro Gilmar Mendes. Diretamente de Portugal, naquele evento que reúne o topo da República, o decano do STF falou sobre isso tudo – e deu sua receita para amaneirar o clima tenso: “Uma pausa para reflexão”. 

Fica a dica. Mas a crise ainda está no auge, sem indícios de trégua.