De ontem para hoje, o debate virou para a inteligência artificial no meio da crise entre Executivo e Legislativo, governo e oposição. O PT e demais frentes aliadas divulgam em massa vídeos que tratam da briga em torno do aumento do IOF. Segundo a imprensa, a “narrativa” da esquerda viralizou. Há uma peça de ficção que dramatiza um conflito de ideias entre pobres e milionários. No centro da discórdia, a “conta” dos ricos.
O conteúdo não tem nada de original. Pode-se mesmo dizer que o antagonismo pobreza e riqueza está em todas as antigas disputas eleitorais que um dia existiram. Afinal, é um discurso clássico, baseado na luta do mais fraco contra o mais forte. Tem um apelo imediato que remonta os milênios. Os que têm muito querem sempre muito mais.
Para isso, atacam os que têm pouco ou quase nada. É o que explica a realidade brasileira, aquela utopia dos ricaços que pagam menos imposto do que batalhadores assalariados. Todo esse palavrório está mais ou menos exposto nos vídeos que atacam Hugo Motta e a turma do Congresso. Por isso, os legisladores estão irritados com Lula.
Mas eu falei de IA. Os vídeos do PT criam personagens a partir da ferramenta que está dominando a Terra. Homens e mulheres que conversam na peça de audiovisual não existem de verdade – são construídos pela inteligência artificial. Já li por aí teorias sobre “ideia superficial” e pertencimento. Pode falar de pobreza com essa linguagem?
É uma pergunta estranha, sem dúvida. Mas está no meio do bate-boca que assaltou as esquinas nas últimas horas. Pelo que entendi, avalia-se que o governo acertou o alvo e, por agora, pressiona o Congresso a recuar em alguma medida. Aposta arriscada.
Para esquentar a temperatura, Lula insinua que pode deixar de sancionar o projeto que aumenta de 513 para 531 o número de deputados federais. A nova lei foi aprovada na Câmara e no Senado. O tema provoca desgaste na imagem do parlamento.
Como se sabe, Brasília está em Portugal. Juízes do STF, ministros do governo e chefes do Legislativo se encontram por lá. A expectativa é por um acordo para baixar a hostilidade política e destravar a administração federal. Do jeito que está, parece difícil.
Diante das dimensões da crise, o detalhe sobre a linguagem com IA segue lateral, embora barulhento nas bolhas. Fato é que a direita sentiu os efeitos de uma ofensiva inesperada – porque está sempre no ataque. No metaverso, as disputas vão se acirrar.