Algum gênio no Ministério das Comunicações achou que teve uma grande ideia. Resolveu tirar uma casquinha na conquista olímpica da ginasta Rebeca Andrade e, para isso, bolou uma postagem, é claro, para lacrar nas redes sociais. Conseguiu. O problema é que a lacração teve o efeito contrário do que esperava o criativo marqueteiro do governo Lula. Como não chegou agora de Marte, o leitor sabe sobre o que escrevo.
A presepada está resumida na imagem acima. Na foto original, Rebeca aparece no pódio recebendo a medalha de ouro, entre as americanas Simone Biles e Jordan Chiles, que ficaram com prata e bronze. As duas fazem um gesto de reverência à brasileira, numa atitude de repercussão mundial. Até Michele Obama elogiou o quadro. Este já é um dos momentos mais marcantes na história dos Jogos Olímpicos. Nada poderia dar errado.
Até um burocrata resolver usar o registro para fazer propaganda do governo. Foi quando saiu a produção que errou em tudo. O ministério publicou a foto, sem a imagem de Rebeca, que foi apagada e substituída por um computador. A sacada tinha como objetivo elogiar um programa oficial de inclusão digital. Como queria o autor dessa maravilha de marketing, a peça explodiu na internet – com uma enxurrada de críticas ferozes.
Sumir com a imagem da mulher que acaba de se tornar a maior medalhista brasileira nas Olimpíadas – e substituí-la por uma máquina! O escarcéu provocado por essa idiotice forçou o ministério a desfazer o troço e pedir desculpas. Mas, como se diz no idioma do metaverso, o print é para sempre. E, sim, tudo isso foi alimentar a guerra cultural entre esquerda e direita. Porque nada escapa ao vendaval que marca nosso tempo.
Isso é realmente grave? Ou é mais um escândalo sobre o nada? Muda alguma coisa na vida do brasileiro que batalha para pagar as contas e, se der, realizar algum sonho? Não, nossa rotina não será afetada em decorrência de mais uma controvérsia. Também não dá para acusar o governo de qualquer tipo de intenção maligna contra as mulheres. O episódio expõe falta de bom senso, indelicadeza e vasta ignorância.
Mas por que profissionais no topo do poder cometem derrapadas como esta? Suspeito que seja a influência determinante da política e do marketing na cabeça de todos – e do burocrata em particular. Tudo é percebido por essas duas esferas, combinadas numa lente obcecada por propaganda e algum tipo de vantagem. Reféns dessa maldição eterna – hoje mais do que nunca –, indivíduo e máquina pública não têm controle. Por aí.