A arte de xingar precisa de criatividade. E essa não é uma qualidade no meio da política. Bolsonaro e seus seguidores elegeram o Nordeste como alvo permanente de suas diatribes. A cada temporada, o ex-presidente requenta a antologia idiota de “piadas” com a região do país que impôs a ele a derrota nas urnas. O repertório serve a ração periódica aos patriotas que certamente se veem como brasileiros de categoria superior.
A última manifestação do delinquente nesse campo foi afirmar que o Nordeste é o pior lugar do mundo para alguém viver. A plateia, na posição de súditos desse escroque, completa o espetáculo achando tudo muito engraçado. Por que diabos uma figura pública que se pretende líder nacional recorre a bizarrices de tal magnitude? Claro, é Bolsonaro e, de uma porcaria como ele, nada além do lixo se pode esperar.
Eduardo Bolsonaro também já produziu, mais de uma vez, o mesmo tipo de pensamento sobre essa região brasileira. O preconceito contra nordestinos, como se sabe, tem história secular. Há uma penca de produções na TV e no cinema em que os nascidos por aqui são retratados como tipos inferiores. Até um dia desses, todo nordestino no Rio ou em São Paulo era “baiano” ou “paraíba”. A classificação ainda está em vigor.
Nos programas de humor e na dramaturgia televisiva, a região não recebeu melhores tratamentos. Pelo contrário, uma combinação de ignorância e achincalhe modelou uma série de enredos e construiu personagens caricatos. Aqui é a terra do acerto de contas na ponta da peixeira, deserto de ideias, crendices e hábitos rudimentares.
Para confirmar a visão bisonhamente equivocada, quando detratores resolvem “homenagear” essa parte do país, recorrem àqueles elementos que reforçam o preconceito. É o caso do próprio Bolsonaro fantasiado de “sertanejo” em campanha eleitoral. A cavalo, com chapéu de vaqueiro, eis o simulacro do “legítimo nordestino”.
De uma hora para outra, o desprezo e o xingamento se fantasiam de celebração ao valente cabra da peste. Quanta mediocridade atravessa as tradições de uma nação! É material para sociólogos e estudiosos da formação de um Brasil indomável, resistente a classificações – das mais eruditas às que recorrem ao humorismo repetitivo e tedioso.
O que pensam vereadores, deputados e prefeitos do Nordeste – os que lambem as botas de Bolsonaro – quando ouvem o líder vomitar tais baboseiras? Como levam a sério o “mito”, deveriam se explicar em público diante de seus eleitores. Concordam com o Jair das milícias e da celebração da tortura? Digam aí, senhores patriotas alagoanos.
Nacionalismo e coisas do gênero não estão entre meus defeitos. Não gosto desse papo de mineirice, alma brasileira, alagoanidade. São ideias no campo do misticismo e do sobrenatural. O Nordeste é uma vastidão de paisagens e pessoas diferentes. Agora, pior do que a tolice do ufanismo paroquial é a estupidez da discriminação. Que país!