Nicolás Maduro governa a Venezuela com o controle da Justiça e o apoio das Forças Armadas. A oposição cobra dessas mesmas Forças Armadas que “façam valer a democracia” e não reconheçam o resultado da eleição deste domingo. Em números oficiais, o presidente se reelegeu com 51,2% dos votos contra 44% de Edmundo González. A oposição denuncia fraude, discurso que é reproduzido por líderes de vários países mundo afora. Rússia e China, porém, vão na direção contrária e apoiam Maduro.

O Brasil divulgou nota e não reconhece, ao menos por enquanto, a vitória de Maduro. É uma guinada na posição histórica de Lula sobre o chavismo. O brasileiro sempre se declarou amigo de Hugo Chávez e de seu sucessor no governo venezuelano. Mas algo começou a mudar neste processo eleitoral. Prova disso foram declarações de Maduro sobre o Brasil e o nosso sistema eleitoral. A mudança de clima causou surpresa.

De volta ao fator Forças Armadas. Reparem que a oposição cobra que o Exército “garanta” a democracia. Na repercussão pelo exterior, o argentino Javier Milei afirmou isto: “A Argentina não vai reconhecer outra fraude e espera que as Forças Armadas defendam a democracia desta vez”. Ou seja, prega um golpe militar contra a posse de Maduro para o novo mandato. As palavras não deixam margem para outra interpretação.

Afora o escândalo de uma eleição fraudada, é trágico para o continente que líderes venezuelanos e presidentes de outras nações incitem abertamente a intervenção militar sobre o processo político. Era o sonho de Bolsonaro por aqui, lembram? Os milicos como “Poder Moderador”. Nessa aberração, direita e esquerda trafegam a mesma faixa. O golpismo segue enraizado em nossa história por diferentes vozes. No Brasil, avançamos.

Cuidado. Filhotes da ditadura, viúvos da prática de tortura estão por aí, com dentes afiados e discursinho cretino “contra o sistema”. Exército não tem direito a pitaco no jogo político, nem hoje, nem nunca. Nem aqui, nem na Venezuela. Desgraçadamente, vê-se que essa ideia segue firme. Pregar intervenção de Forças Armadas para “defender” a democracia é uma contradição nos termos e um erro em todas as dimensões.