Nos primeiros dias após a morte de Paulo César Farias, em junho de 1996, uma das reportagens de maior repercussão foi da jornalista Elza Amaral, uma das profissionais que integravam o time da TV Gazeta. Eu era chefe de redação. Marcio Canuto era o diretor do departamento de jornalismo. A imprensa nacional tinha invadido Maceió. Suponho que nunca houve algo parecido com aquela avalanche de produtores, repórteres, fotógrafos, cinegrafistas e editores. Era uma guerra por informações.
Se em situações normais, um dado exclusivo já é algo valorizado, imagine numa cobertura de alcance nacional daquela dimensão. Uma notícia em primeira mão estremece todo mundo – e a concorrência se torna ainda mais estressante. Houve casos de doença na grande imprensa por causa da pressão para “sair na frente” com uma novidade. Os veículos enviaram para cá o que de mais estrelado havia em suas redações.
A especulação de duplo assassinato foi imediata, mas a polícia cogitou logo a hipótese de homicídio seguido de suicídio. Em 23 de junho, PC Farias teria sido morto pela namorada Suzana Marcolino, que se matou em seguida. Ele tinha 50 anos, e ela, 28. Os corpos foram encontrados num dos quartos da casa do empresário, localizada na praia de Guaxuma. Quatro dias após o crime, a repórter Elza Amaral trouxe uma bomba.
Ela saiu no começo da tarde para tentar mais informações sobre a arma do crime – que havia sido comprada por Suzana pouco tempo antes das mortes. A jornalista me mantinha informado sobre suas descobertas e combinávamos os próximos passos. Ouvindo fontes na apuração em campo, Elza seguiu até o município de Atalaia – e lá descobriu uma história que ninguém até então sabia. O chamado furo de reportagem.
Na volta à TV, já na pressão do horário para a edição a tempo do telejornal, a jornalista entregou o material exclusivo. Em Atalaia, ela tinha ido até uma churrascaria de propriedade da pessoa que vendera o revólver para Suzana. A dona do local revelou que a namorada de PC havia praticado tiros com a arma adquirida em 14 de junho. A proprietária foi minuciosa ao contar o que se passou durante o “treinamento” de tiro.
Suzana não tinha intimidade com armas de fogo, segundo a testemunha. Por isso, ela própria teve de carregar o revólver. Nos fundos da churrascaria, a mulher mostrou o ponto exato de onde os tiros foram disparados e onde cada uma das sete balas acertou. Todas aquelas informações foram ao ar no ALTV e no Jornal Nacional como o principal destaque no noticiário. Toda a imprensa repercutiu e correu atrás no dia seguinte.
A descoberta de que Suzana tinha praticado tiros era pra lá de relevante. A hipótese de assassinato seguido de suicídio não era algo a ser menosprezado. Mas havia também outros indícios que fortaleciam a tese de duplo homicídio. A verdade é que jamais saberemos. Em 2013, um júri decidiu que PC e Suzana foram mortos por uma terceira pessoa – mas absolveu os quatro acusados de autoria material. Ninguém foi condenado.
Não cabe ao jornalismo o trabalho de polícia. Ressalto o papel essencial de uma profissão que pode – isto sim – tirar da sombra fatos decisivos para a compreensão de um acontecimento. O caso é um exemplo perfeito nessa missão. E é uma homenagem ao verdadeiro repórter, indispensável à imprensa que se pretenda relevante.
Esta foi apenas uma das ocasiões em que Elza Amaral exibiu a combinação de talento e domínio técnico na produção de uma reportagem. Ela passou por todas as funções no jornalismo próprio da TV. Sua assinatura está em muitas outras coberturas nas quais se comprovam as qualidades de uma profissional completa. Em resumo, uma referência.