Não foi algo dentro da normalidade. Por isso a forte repercussão. A Globo dedicou quase 7 minutos no Jornal Nacional para aliviar a barra de Hugo Motta, do Congresso e dos donos do dinheiro. A noite desta quinta-feira 3 de junho marcou um lance a mais na disputa política entre governo e oposição. Ainda que não haja surpresa quanto ao alinhamento global, a reportagem causou estranheza. A parcialidade foi escancarada.
O presidente da Câmara aparece na história como um rapaz inofensivo, preocupado com os destinos do país. É hilário ouvir Hugo Motta afirmar que o PT está jogando o país numa “polarização social”. E a Globo leva ao ar uma declaração cretina como se fosse uma tese formulada por alguma mente valorosa. Todos pela democracia! Brincadeira.
No centro da confusão, uma série de vídeos que sacodem a internet. Tratei do assunto no texto anterior. As peças são produzidas por inteligência artificial. Em um jantar de ricaços, por exemplo, deputados e empresários comemoram a mamata com os cofres públicos. De tão caricatas, as peças surtem o efeito esperado por seus criadores.
A campanha com os vídeos que viralizam é uma resposta à postura da Câmara dos Deputados e do Senado sobre o IOF. O governo editou decreto que aumenta as tarifas para operações financeiras. É uma merreca a mais na taxação dos que têm de sobra. Nada a ver com as contas dos mais pobres. Um levante no Congresso sabota a medida.
Numa traição diante do que havia sido acordado, Motta marcou votação em cima da hora, sem tempo hábil para debates. Agiu de maneira antiética depois de garantir o oposto do que fez. Agora, bombardeado pelas críticas, o parlamentar tenta posar de vítima e fingir preocupações com “deveres” e “polarizações”. Aí a Globo veio ajudar.
Diante do que exibiu no JN, a emissora da família Marinho tomou partido de modo pouco diplomático, digamos assim. É natural, portanto, que seja arrastada para o meio do tiroteio. Depois de se aliar com os de sempre, a TV passa vergonha e vira alvo dos vídeos e dos memes. Depois do que fez na Lava Jato, esse “jornalismo” não aprendeu nada.
Na reportagem, soa ridícula a ênfase sobre os vídeos com inteligência artificial. É como se, segundo o texto, a ferramenta fosse sinônimo de crime. Nem merece contestação. Fato é que o jogo político deu uma guinada nesse episódio específico. Políticos que nasceram e cresceram na lama agora “denunciam ataques ao Congresso”.
E não é que a Globo decidiu embarcar, de novo, na canoa errada?! Tradição é fogo.