Canal do Sertão é a síntese da política

10/05/2024 14:48 - Blog do Celio Gomes
Por redação
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O presidente Lula vem a Alagoas e, ao lado do governador e outras autoridades, anuncia recursos para o Canal do Sertão. É a maior obra estruturante do estado, apontada como a solução definitiva de um problema secular. A seca, origem de tantos dramas para milhares de pessoas, finalmente é encarada com a devida seriedade, sem improviso nem enrolação. A visita de Lula ocorreu em 2003, quando Ronaldo Lessa era governador.

Daquela vez, no primeiro ano de mandato, Lula não esteve no Sertão. Foi uma visita especial. Ele veio em 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, e subiu a Serra da Barriga, em União dos Palmares. Eu estava lá a trabalho, como editor de política de O Jornal. Viajei com a fotógrafa Ivete Moura – um privilégio e tanto –, que registrou cenas exclusivas, com talento e faro jornalístico. Foi a manchete no dia seguinte, claro.

Me empolguei. Voltando. Após os discursos, Lula não deu entrevista. Mas no platô da serra, numa bagunça de microfones, gravadores, câmeras, blocos e canetas, Lessa falou com os jornalistas. Consegui perguntar o que era prioridade nas “cobranças” que faria ao presidente. Não deu outra. A primeira demanda era a liberação de grana para tocar o Canal do Sertão. Lessa disse estar confiante com a parceria do governo federal. 

Cinco anos depois, quando o governador já era Téo Vilela, lá estava Lula no sertão de Alagoas, fazendo o quê? Anunciando verbas para tocar a mesma obra. Em março de 2008, os dois posaram para fotos em visita a um trecho do Canal, no território de Delmiro Gouveia (na imagem acima). Finalmente em 2013, são inaugurados os primeiros 45 km. O governador era o mesmo, mas na presidência já estava Dilma Rousseff.

Mais dois anos adiante, a mesma Dilma volta ao estado, mas agora para encontrar outro governador, Renan Filho. Nova solenidade e mais alguns quilômetros inaugurados da mesma obra. Aos trancos e barrancos, a coisa vai andando. E eis Lula em 2024, no terceiro mandato, nos confins de São José da Tapera, ao lado do governador alagoano – que agora se chama Paulo Dantas. É o anúncio dos trabalhos no trecho 5 do canal.

O projeto é de 1992. Vai de Delmiro Gouveia a Arapiraca, numa extensão de 250 km. Na origem, depois de alguns metros de obra, máquinas e picaretas pararam por 10 anos. Após a retomada em 2003, até hoje não chegou à metade do caminho. Sete presidentes e sete governadores no percurso. Vimos a virada do século e a revolução do metaverso, mas a obra ainda está aí. Um retrato dos descaminhos da política.

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