A morte de Joca e um novo mundo

25/04/2024 13:50 - Blog do Celio Gomes
Por redação
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Em situações muito raras, quando o presidente da República se manifesta sobre um episódio que nada tem a ver com política ou economia, o bicho tá pegando. Literalmente, alguém poderia acrescentar. Foi o que ocorreu nesta quarta-feira, quando Lula se pronunciou sobre um assunto para o qual não foi chamado a opinar. O chefe da nação bateu na empresa Gol Linhas Aéreas, depois de um caso que gerou comoção nacional.

A morte de Joca, um cão de grande porte, entrou na escalada do Jornal Nacional – o que é suficiente para se entender o alcance e a dimensão trágica da notícia. O animal foi vítima de uma falha da Gol, que errou o aeroporto de destino do passageiro de quatro patas. Você conhece os detalhes da história. Um vídeo no qual o dono do Joca aparece aos prantos incendiou as redes (eu sei que falar “dono” nem pega bem).

Numa solenidade do Ministério da Cultura, Lula avisou que usava uma gravata com “o desenho de um cachorrinho”. Era um protesto pelo que aconteceu. Explicou o presidente: “Eu acho que a Gol tem que prestar conta. Acho que a Anac tem que fiscalizar isso, e acho que a gente não pode permitir que isso continue acontecendo no Brasil. Então essa gravata é homenagem e nossa solidariedade”

Como cobrou o presidente, além da Agência Nacional de Aviação Civil, o Ministério de Portos e Aeroportos também vai investigar o caso. A Gol suspendeu por 30 dias a venda do serviço de transporte de cães e gatos. Em nota a empresa informa que “se solidariza com o sofrimento do tutor de Joca”. E acrescenta: “Entendemos a sua dor e lamentamos profundamente a perda de seu animal de estimação”.

Fundada em 2001, a Gol Linhas Aéreas é a maior empresa de aviação do Brasil e opera em mais de 20 destinos internacionais. Com trajetória cheia de solavancos, em janeiro deste ano entrou num processo de reestruturação financeira nos Estados Unidos. Foi um pedido de socorro para sanar uma dívida de 20 bilhões de reais com credores estrangeiros. Encarar crises não é novidade na rotina da companhia.

Os executivos nunca imaginaram que um cachorro pudesse fazer tanto estrago. No mundo que havia até um dia desses, ninguém, além dos envolvidos, daria bola para o ocorrido. Mas aí é que está: este não é aquele mundo. A morte do Joca nos lembra que o ponto de inflexão – de valores, de princípios – não tem volta. Em outras palavras, é um símbolo que sintetiza ideias e modos de vida em transformação.

Exagero? Somente para desatentos.

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