A deletéria atuação das forças policiais na política brasileira

12/04/2024 14:28 - Blog do Celio Gomes
Por redação
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Um delegado e uma delegada devem disputar a eleição à Câmara Municipal de Maceió. Thiago Prado e Ana Luíza Nogueira se afastam dos cargos, deixam as investigações policiais e encaram a travessia para o mundo da política. Repetem assim o que muitos de seus colegas de profissão fazem a cada temporada eleitoral. Antes de se eleger deputado, o ultrarreacionário Fábio Costa esquentou uma cadeira de vereador na capital. Todo brasileiro tem direito de disputar eleição, desde que obedeça aos requisitos legais para isso. Beleza.

Se a dupla em questão obtiver êxito, se junta ao delegado Kelmann Vieira, vereador que está na Câmara há uma década. Dá até pra pensar numa bancada temática. Os dois virtuais candidatos têm perfis distintos. Prado escolheu o Progressistas, chefiado em Alagoas pelo coronel Arthur Lira. Ana Luíza se filiou ao MDB, incentivada pelo governador Paulo Dantas.

Falei de perfis distintos. Prado é da linha Fábio Costa. Os dois atuam sob a inspiração do estadista Jair Bolsonaro. Ambos têm tudo a ver com a filosofia de trabalho adotada pelo atual governo de São Paulo: tiro, porrada e bomba pra cima de pretos e pobres da periferia. Os dois admiram o abrutalhado Guilherme Derrite, capitão PM e secretário de Segurança do governador Tarcísio de Freitas. Por decisão do chefe do Executivo estadual, o sujeito atua com licença para matar. 

Ana Luíza, até onde sei, não frequenta esse covil político-ideológico. Tem marcado sua atuação na prevenção e no combate à violência contra a mulher – uma causa prioritária no Brasil campeão de feminicídio. É um trabalho duro num país que naturaliza a misoginia e celebra a truculência da macharada. Não tenho dúvida que, sendo eleita, a Câmara e a cidade saem ganhando.

Dito isto, a presença de agentes da segurança (civis e militares) no campo da política partidária tem sido deletéria. A esculhambação da era Bolsonaro não deixa dúvida sobre o problema. Forças policiais não combinam com o exercício de mandatos eletivos. Se um integrante das polícias decide se candidatar, tem de deixar a carreira em definitivo. Não pode ficar indo e vindo, ao sopro da biruta de interesses particulares e da politicagem. É privilégio a uma categoria que – armada – tem a prerrogativa legal do uso da violência.

Depois de tudo o que se viu nos últimos anos, passou da hora de acabar com essa imoralidade perigosa. Para tanto, o Congresso precisa ter coragem de enfrentar o debate. A bancada da bala, é claro, está armada para impedir esse avanço no país. Mas é uma pauta incontornável no parlamento.

Na foto acima, o tamanho da bizarrice. É Thiago Prado em campanha para deputado estadual em 2022. Largou o trabalho e caiu em campo, se vendendo como arauto da segurança pública. Perdeu nas urnas e voltou às delegacias. Dois anos depois, repete a dose. É um escracho. O que ele faz quando volta ao cargo? Investiga ou garimpa votos? Não dá. Essa promiscuidade tem de ser banida do sistema político brasileiro.

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