A tragédia dos bairros atingidos por rachaduras e afundamento de solo, em decorrência da atividade de mineração da Braskem, é um atualmente um dos assuntos mais amplamente abordados na mídia local e nacional.

Considerado um dos maiores crimes ambientais urbano do mundo, o caso tem sido mostrado do posto de vista técnico, ambiental, geológico, econômico, político, físico, mas foi o lado humano que despertou o interesse dos produtores do filme ‘Aqui Fomos Felizes’, que tem a direção de Marllon Meirelles. 

A película é um média-metragem do tipo documentário, que tem 30 minutos de duração, e foi lançado nesta sexta-feira (15) em uma exibição aberta ao público na Escola de Artes da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).

Em entrevista ao CadaMinuto, um dos produtores do documentário, o também roteirista Emerson Nascimento, falou sobre a produção e abordagem do filme, que conta a história de oito moradores de bairros afetados pela tragédia da Braskem. Ele afirma que a obra procura dar voz e cara aos números das pessoas afetadas, permitindo que as vítimas expressem seus relatos pessoais e suas lutas por reivindicação, trazendo um olhar humanizado para uma tragédia anunciada que a Braskem, os órgãos de controle e o próprio poder público insistem em ver como um fenômeno contingente e casual.

Confira a entrevista:

Do que trata o filme Aqui Fomos Felizes? Qual a ideia central dele?

Muito é falado sobre as consequências físicas, técnicas e econômicas geradas pela mineração predatória promovida pela Braskem ao longo de 47 anos, no subsolo de Maceió, mas o que dizer do seu impacto sobre as trajetórias pessoais daqueles que tiveram suas vidas devastadas pelo maior crime ambiental em área urbana do mundo? A ideia do filme é mostrar os dramas pessoais das famílias atingidas, de uma forma mais humana, contando a história de oito moradores dos bairros afetados.

Como foi a escolha de mostrar o lado mais humanizado dessa tragédia?

Foi a partir das escutas das histórias e dramas pessoais de cada morador pelos realizadores marcou, desde o começo, o interesse da equipe pela abordagem humanitária do problema, da pesquisa à gravação. Toda equipe, direção, roteiro e produção se comoveu com as narrativas, drama e toda a história por trás de toda a argumentação técnica e econômica constantemente divulgada e discutida.

O filme relata a história de oito moradores quem são e quais as questões abordadas das histórias deles?

Contamos as histórias pessoais de seu Luiz, dona Iraci, Elizângela, Zé Ricardo, Priscilla, Sofia, Fernanda e Romualdo. O filme explora os desdobramentos catastróficos da ação da empresa sobre as relações sociais e afetivas de cinco bairros inteiros da cidade de Maceió. São histórias de dor e resistência que vão se sobrepondo à tela em busca de justiça. Contamos a expulsão dos seus territórios, onde nasceram e viviam, à conivência do poder público com os desmandos da empresa. O filme expõe a via-crúcis destas pessoas, o desafio de reconstruir a vida em outro território no qual não se identificam, o desagregamento da vida social, as doenças adquiridas, as perdas familiares e a briga pela memória de um tempo em que todos eram felizes.

Diante do protagonismo que o filme dá aos moradores, há algum marcador social abordado?

Sim, levamos em conta que o crime cometido pela Braskem também tem marcadores sociais. O filme volta sua atenção às margens das chamadas áreas de risco e acompanha o cotidiano dos moradores das bordas, que sofrem ilhados do restante da cidade. São trabalhadores, donas de casa, crianças, jovens, que hoje se encontram distantes de tudo, de farmácias, postos de saúde e escolas, e que veem suas casas rachando enquanto a empresa nega seu direito de realocação.

Quando na manhã daquele 03 de março de 2018 o chão tremeu, sobre cada casa e cada família, caiu um vendaval. Nesse intervalo, não foram só as casas que racharam, foram também os sonhos, os projetos pessoais, os afetos e as lembranças de toda uma vida, de todos e de cada um. Nesse sentido, o argumento principal do filme é que este não é um crime comum, não é um crime contra alguns, mas um crime contra todos, contra uma cidade inteira, contra a vida. 

Do centro à margem e vice-versa, o filme privilegia a história de oito pessoas em referência e respeito à história de 60 mil pessoas afetadas pelo crime da Braskem. Acreditamos que retratar na tela essas histórias, dar cor, tessitura e voz a esse sem-fim de tragédias pessoais é uma forma trazer ao centro do debate e dotar de protagonismo quem teve seu direito vilipendiado e sua vida devastada e não, os donos do capital, aqueles que exploraram o subsolo da cidade à exaustão. 

Fale um pouco da ficha técnica do filme?

O filme é um média-metragem, tem 30 min, de tipo documentário, realizado pela Eixo Audiovisual e pela Pernambuco Filmes. É produzido pela UNIMA em parceira com os escritórios Pogust Goodhead e Hotta Advocacia, contando ainda a participação de membros do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem.  A direção é assinada por Marlom Meirelles, roteiro e produção de Cynthia de Jesus, e Helisabety Barros e consultoria de Jesana Batista. Eu assino o argumento da direção e o roteiro e produção, junto com os referidos colegas.

 Assista ao trailer: