Imóveis abandonados constituem uma crescente preocupação nas cidades, acarretando diversos riscos tanto para a comunidade local quanto para o ambiente urbano como um todo. Esse cenário não é diferente em Maceió, onde a presença de edifícios negligenciados tem se tornado uma questão cada vez mais relevante.
O CadaMinuto entrou em contato com a Prefeitura de Maceió e foi informado que ela não dispõe de dados sobre o número de imóveis abandonados na capital. Segundo o órgão municipal, ainda está sendo feito o mapeamento dessas áreas.
Ao CadaMinuto, Vinicius Oliveira, estudante do curso de Direito e morador do Condomínio San Rafael, na Mangabeiras, relatou as dificuldades e os impactos de viver ao lado de um prédio abandonado. Segundo ele, o prédio está nessa situação há anos devido à falência do dono da construtora, deixando-o inacabado.
Vinicius conta que a população da região está sofrendo com a situação. “É horrível para os moradores da região, pois é um perigo para a população que precisa passar por lá é um problema de saúde pública gigantesco”, conta.
Vinicius destaca que a população local está sofrendo com a situação, considerando-a perigosa e um problema de saúde pública grave. A falta de segurança é uma das principais preocupações, com relatos de assaltos frequentes na região, especialmente à noite.
Outra questão levantada é a problemática sanitária, com o acúmulo de lixo na região, agravado durante o período de chuvas, o que favorece o surgimento de doenças como a dengue.
“Nessa época de fortes chuvas, o imóvel vira foco de Dengue. Lá em casa nunca foi de ter mosquito, mas sempre que chove, tem um acúmulo de água parada lá [prédio abandonado], que faz com que os mosquitos da dengue se reproduzam e não tem como fiscalizar”, desabafa o morador.
O estudante menciona que a construção abandonada possui uma garagem no subsolo que, atualmente, funciona como um depósito de lixo. Embora a Prefeitura tenha realizado uma limpeza no local, Vinicius acredita que essa medida isolada não é suficiente para resolver o problema.
Além disso, os moradores realizaram uma abaixo-assinado para denunciar a situação, mas até o momento, nenhuma ação efetiva foi tomada, mesmo considerando o processo em andamento devido à falência da construtora responsável pela obra.
Vinicius sugere como melhor solução a demolição do prédio ou o isolamento para impedir a entrada de terceiros e melhorar a segurança no local.

Outra moradora da região, residente do condomínio Vaticano, que preferiu não se identificar, também expressa sua tristeza com os problemas de segurança e saúde pública causados pelo abandono do edifício.
“É uma região tranquila, os moradores nunca perturbam o sossego e mantêm seus prédios limpos, mas somente uma construção abandonada traz todos esses problemas”, desabafa a residente.
Ela destaca o receio de passar pela frente do prédio devido ao movimento de pessoas e à impossibilidade de ver o interior do mesmo.
A moradora afirma que a Prefeitura iniciou uma limpeza no local e retirou mais de 100 toneladas de lixo, incluindo objetos como vasos sanitários, televisores e restos de comida.
“Os moradores vêm reclamando da situação há uma década e esperam que um destino seja dado ao prédio, seja para moradia ou para a construção de um novo empreendimento”, disse.
“É um problema em série”
Em entrevista ao CadaMinuto, o professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e Arquiteto Urbanista, Dilson Ferreira, discorre sobre os impactos do abandono de prédios na cidade, mencionando também casos de imóveis abandonados no Centro de Maceió. Ele enfatiza que o problema não afeta apenas o edifício, mas também o entorno, gerando um cenário de caos.
“Na verdade é um problema em série ter prédios abandonados nas cidades”, explica.
Dilson aponta a falta de urbanidade, a insegurança, a criminalidade, os riscos à saúde pública e à integridade física como alguns dos impactos causados pelo abandono.
Ele menciona que o deslocamento do centro de compras e a falta de investimentos em infraestrutura e revitalização urbana são fatores que contribuem para o aumento do número de prédios abandonados.
“Há várias razões pelas quais muitos prédios estão abandonados no Centro de Maceió. O principal foi a mudança da área comercial para shoppings e a falta de investimentos em infraestrutura e revitalização urbana”, revela o professor.
Dilson argumenta que isso fez com que ao longo do tempo estes prédios mais antigos se tornassem menos atrativos. “Com o tempo estes imóveis esquecidos pelo mercado começam a aparecer problemas estruturais levando-os à interdição do imóvel e ao seu consequente abandono”
Outro problema citado pelo arquiteto urbanista são as dívidas de impostos e outras questões judiciais, como falta de alvarás, licenças vencidas e documentação irregular. “Essas questões acabam impedindo, muitas vezes, a negociação e a revitalização destes edifícios”, como é o caso da obra abandonada no bairro da Mangabeiras.

“A cidade como um todo sai perdendo”
A professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Ufal, Lucia Hidaka, comenta sobre a degradação estética da cidade devido ao abandono de construções, especialmente históricas, e propõe possíveis soluções para o problema.
Ela ressalta que não existe uma única explicação para o aumento do número de prédios abandonados e que é necessário analisar dados para identificar possíveis causas. “O esvaziamento de um local, com infraestrutura urbana instalada, é preocupante e deve ser analisado com métodos e técnicas apropriadas para que a gestão pública tome decisões mais acuradas”, alerta a professora.
Lucia destaca que o abandono de construções históricas têm impactos significativos no turismo, na preservação do patrimônio e nas relações socioeconômicas.
“Eles [prédios] compõem uma ambiência histórica e são marcos referenciais da nossa memória urbana, cultural, social, econômica e simbólica”, diz Hidaka.
Para reverter o problema, ela sugere atrair usos que possam dinamizar essas áreas, como a habitação de interesse social, e coibir posturas que potencializem a saída de usos diversificados e a manutenção de espaços vazios.
Poder Público e medidas
Quanto às medidas tomadas pelo Poder Público, a Prefeitura de Maceió alegou que adotará providências temporárias para minimizar o problema, reforçando a segurança nos prédios abandonados para evitar que sejam utilizados para práticas criminosas. Além disso, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb) apresentará providências em relação a outros imóveis abandonados na cidade.
No caso dos imóveis no Centro de Maceió, a Prefeitura informou que está mapeando e estudando possíveis soluções para as áreas de vazio urbano, além de realizar medidas de limpeza em diversos locais.
Confira a nota na íntegra:
A respeito dos vazios urbanos no Centro de Maceió, o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Maceió informa que essas áreas têm sido devidamente mapeadas e estão sendo objeto de estudos técnicos, inclusive para a aplicação de instrumentos urbanísticos no processo de planejamento urbano.
Projetos em desenvolvimento, como o de Regularização de Calçadas para o Centro, visam tornar a área mais acessível e segura. A revitalização do centro urbano é importante para promover o dinamismo econômico, preservar o patrimônio histórico e cultural, além de oferecer qualidade de vida aos cidadãos. Com base nesse compromisso, o Instituto continuará empenhado em promover a ocupação adequada dos espaços, por meio de estratégias de planejamento urbano e instrumentos urbanísticos adequados.
*Estagiária, sob supervisão da editoria