Bolsonaro e o DNA golpista das Forças Armadas

06/02/2023 18:16 - Blog do Celio Gomes
Por redação
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Ao longo de quase todo o mandato de Jair Bolsonaro – o delinquente agora em fuga pelos Estados Unidos –, o país assistiu a um espetáculo que requebrava do grotesco ao banditismo: eram as manifestações que imploravam por um golpe militar. Lá estavam os cidadãos de bem, os pais de família, os rapazes da nova política, os patriotas. Todos morrendo de medo de uma iminente invasão comunista. A patetice era uma versão repaginada, e farsesca, do que se viu em 1964. 

Esses ataques à ordem democrática tiveram o apoio nada velado das Forças Armadas, em especial do Exército – algo que naturalmente não pode surpreender ninguém. O golpismo está na alma da tropa desde que Deodoro proclamou a República. De lá para cá, numa tragédia permanente, o Brasil convive com arreganhos totalitários paridos na maquinaria verde e amarela, instalada de norte a sul nos porões de brigadas, regimentos, batalhões e quartéis. 

Generalizada entre os milicos, a disposição golpista é praticamente um dogma, regado fanaticamente nas academias que formam de recruta a general. Não escapa ninguém, com as exceções que nada interferem na cristalização dessa filosofia rastaquera.

A temporada de Bolsonaro no Planalto deu visibilidade a nomes que representam essa incurável atrofia no pensamento dominante nas carreiras militares. E, pelo que se viu durante quatro anos, é um espanto a qualidade de nosso generalato. Em atos e palavras, combinam-se truculência e ignorância em proporções pra lá de cavalares.   

Veja essa lista: Hamilton Mourão, Paulo Sérgio Nogueira, Luiz Eduardo Ramos, Augusto Heleno, Walter Braga Netto, Eduardo Pazuello e Eduardo Villas Bôas. De vice-presidente a comandante do Exército, passando por ministros, esses elementos provaram que os fardados trabalham com afinco na defesa do atraso institucional do país. Golpistas natos, os generais se refestelaram na imundície do governo do capitão.

Como o mundo mudou, essa gentalha percebeu que não havia como partir para o golpe clássico, aquele que põe os tanques na rua, tortura e mata adversários do regime. Mas os “defensores da pátria” fizeram tudo o que podiam para sabotar as regras do jogo e ficar no poder. O ataque de 8 de janeiro em Brasília tem as digitais emporcalhadas dessa turma.

A anistia do fim dos anos 1970, no ocaso da ditadura, garantiu a impunidade para torturadores e assassinos. Eis um fator determinante para que as coisas continuem como sempre foram. Por isso, punir os fardados que cometeram variados crimes na gestão Bolsonaro seria um avanço na vida pública brasileira. 

As Forças Armadas precisam entender de uma vez por todas: suas tropas não formam um quarto poder, não podem apitar no mundo da política, não estão acima da lei e devem obediência ao Estado de Direito. Não há alternativas. Hoje parece impossível, é verdade, mas talvez algum dia o país alcance esse patamar de civilidade.

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