Quem destruiu a velha ponte do Catita não foi a chuva, mas a ganância dos canaviais

03/07/2022 16:42 - Raízes da África
Por redação
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Osvaldo Maciel, professor universitário, em Alagoas, escreve:

 

A velha ponte do Catita, localizada na serra por onde unem-se as cidades de Ibateguara e Colônia Leopoldina, acabou de completar 100 anos. Sua construção é do período 1919-1922. O estilo arquitetônico deixa claro essa vida centenária.

Construída como projeto de integração entre regiões diferentes, para fortalecer a povoação na região e ligar a parte serrana à região de Porto Calvo, havia pouquíssima cana na região quando foi construída. Eram tempos duros, porém com um sentido de integração e de desenvolvimento que foram sufocados.

Com a fundação da Usina Taquara, fecha-se o cerco do canavial à região de mata. Entre a usina Serra Grande e os bangüês antigos do litoral norte de Alagoas, não havia mais a mata real verde dominada pelos cabanos. Lugar de medos, encantamentos e rebeldia. Agora era a cana que deveria mandar, para benefício de poucos.

Agora imperam as usinas, a destruição dos sonhos, o desmatamento, o fim da policultura e dos pequenos agricultores, a exploração até a exaustão do boia-fria, a vigilância e a disciplina férrea sobre qualquer rebeldia. Desde então, só destruição, devastação e aumento da miséria.

Muitos pensam que foram as chuvas deste inverno rigoroso que derrubaram a velha ponte do Catita. Estão equivocados: na verdade, foi a falta de planejamento, o assoreamento do Jacuípe, a concorrência da estrada de asfalto paralela que ainda não foi terminada, tudo isso comandado pela ganância dos grandes fornecedores e usineiros que garantiram que aquela ponte deveria ser destruída. Conseguiram. É morte matada, mas como sempre os mandantes vão ficar impunes.

De toda forma, sem esquecer a solidariedade com aa mortes, adoecimentos, perdas de casas e moradias que muita gente vem sofrendo, a denúncia pode e deve ser feita para fortalecer uma outra consciência social e torno da economia da região. A beleza natural que ainda existe no Catita , o restinho de mata e a vida animal que teima em sobreviver naquele cantinho inóspito do Brasil, e a saudade de um tempo que foge diante de nós, merecem este texto dolorido em tom de desabafo.

 

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