O “toma lá, dá cá” de Jair Bolsonaro

07/12/2021 11:48 - Blog do Celio Gomes
Por redação
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Emendas de relator. Orçamento secreto. É na combinação dessas duas estranhas expressões que se opera o Toma lá, dá cá entre Bolsonaro e Congresso Nacional. É um negócio na casa dos bilhões – mais precisamente 16,8 bilhões de reais na peça orçamentária de 2021. É grana mais que suficiente para turbinar campanhas eleitorais de aliados do Planalto.

O tema pegou fogo após o STF suspender, no começo de novembro, a execução dessa dinheirama, abrindo nova janela de tensão entre parlamento e Judiciário. Isso acaba de ser superado, após a ministra Rosa Weber derrubar sua própria decisão e autorizar a volta da liberação das emendas do relator.

O pulo do gato que viabiliza a traquinagem nesse mecanismo de compra de apoio parlamentar é o anonimato. O relator do Orçamento destina os recursos para obras sem que se saiba a origem da emenda que ele autoriza. Daí o “secreto” na série de reportagens do Estadão, que escancarou o esquema.

É simples. O relator, aliado de Bolsonaro, atende ao pleito dos deputados e senadores governistas. Eles ganham obras em seus redutos e votam de acordo com as vontades do presidente da República. Ao liberar a execução das emendas agora, Rosa Weber deu 90 dias para que o Congresso informe os autores das propostas.

Coincidência ou não, os currais eleitorais do alagoano Arthur Lira foram contemplados com repasses milionários. O orçamento secreto destinou 3,8 milhões de reais para Barra de São Miguel, cujo prefeito Benedito de Lira é pai do presidente da Câmara. Já a gloriosa Arapiraca, também sob influência de Lira, levou nada menos que 64 milhões de reais.

Na campanha de 2018, um candidato dizia que, se eleito, acabaria com “o vergonhoso toma lá, dá cá”. Sim, era o Jair Messias, aquele que os rapazes da nova direita tanto reverenciavam – até “descobrirem” a verdade e se declararem “decepcionados” e até “arrependidos”. 

Bolsonaro não só não acabou “com isso daí”, como deu um jeito nada sutil – mas infalível – de aprimorar a maracutaia. A execução do Orçamento público para as prioridades do país virou acordão em nome de interesses eleitoreiros.

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