O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) será aplicado em todo Brasil neste domingo (21), nas modalidades impressa e digital. Este será o segundo Enem aplicado neste ano, já que as provas de 2020 foram adiadas por causa da pandemia e foram aplicadas em janeiro e fevereiro.

O Cada Minuto ouviu alguns estudantes que vão fazer a prova neste domingo e que relataram algumas dificuldades para a preparação da prova, durante a pandemia. 

O estudante João Pedro, de 22 anos, pretende estudar medicina na Universidade e aponta que a principal dificuldade enfrentada durante esse período foi se preparar para fazer o segundo Enem do ano.

Foto: Cortesia 

“Acredito que a principal dificuldade foi ter vindo de um ano longo de pandemia e de esse ser o segundo Enem realizado no ano de 2021, então o cansaço é um fator determinante”, relata.

Esse é o terceiro ano que o estudante realiza a prova e afirma que sempre mantém uma rotina de estudos equilibrada, porém não abre mão de atividades físicas e projetos pessoais.

“Eu sempre tento manter em torno de uma palavra: equilíbrio. Então ao mesmo tempo que tenho um foco nas aulas, busco fazer questões e corrigir os erros, busco também não deixar as atividade físicas de lado, outros projetos pessoais e priorizar sempre a saúde mental”, afirma o estudante.

João conta que pretende encontrar provas semelhantes aos anos anteriores e acredita que a orientação política do atual governo reflete na prova.

“Penso que independente de tudo, será cobrado assuntos do ensino médio, então a análise de incidência das provas realizadas pelo governo Bolsonaro pode ser uma grande bússola nessa reta final”, comenta.

Rotina intensa e desgastante

Já para o estudante Lucas Beltrão, 20 anos, a rotina de estudos foi intensa e desgastante. Para ele, sobrou pouco tempo para o descanso devido a pandemia e a aplicação da prova pela segunda vez no ano.

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Beltrão relata que apesar da flexibilidade comparado à 2020, a educação a distância ainda é um desafio para a maioria dos estudantes que sofrem com o cansaço físico e mental.

Questionado sobre  a expectativa para a prova, o estudante conta que espera um tema de redação que evite ao máximo temas que possam servir de crítica ao governo. “Acredito  que serão evitados temas  relacionados ao combate a pandemia, a volta do Brasil no mapa da fome, aumento do preço da gasolina ou a inflação de dois dígitos”, conta.

Ele pontua que no Enem de 2020 já foi notado a ausência de alguns conteúdos nas provas de humanas e acredita  que isso pode se intensificar no Enem que virá agora.

O estudante Luiz Constant, 18 anos, está realizando a prova do Enem pela segunda vez e participou da última edição como forma de treinamento. Ele conta que pretende cursar astrofísica e, para isso, teve uma rotina de estudos intensa durante a maior parte deste ano.

“No início, estudava o dia inteiro e fazia simulados durante o final de semana. À medida que foi se aproximando do Enem, eu fui desacelerando cada vez mais e criando uma rotina tranquila e menos intensa”, explica.

Luiz afirma que a principal dificuldade enfrentada durante esse processo foi a interrupção das aulas presenciais no ensino médio, devido a pandemia. “Aconteceu de forma abrupta e, talvez, a maior dificuldade que nós tivemos foi voltar à rotina de estudos após um ano sem praticamente estudar, já que a grande maioria não assistiu as aulas online”.

Questionado sobre suas expectativas para a prova, o estudante acredita que diversos assuntos relacionados à política, que apresentam um viés contrário ao do presidente, não devem ser abordados nesta edição. “Ainda mais após a declaração do presidente que afirmou que a prova vai estar condizente com o governo dele e disse certa que, de certa forma, vai ser a ‘cara’ dele”.

“Então, principalmente após esse pronunciamento e a saída de diversos cooperadores do sistema, eu acho que vai ser uma prova ‘pobre’ em alguns conteúdos. Mas eu não estou me apoiando na expectativa e acredito que pode surpreender”, finalizou Luiz.

Enem mais desigual da história, diz professor

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O professor de cursos preparatórios para vestibulares, Jorge Lôbo, destaca o esforço dos estudantes que irão realizar as provas do Enem este ano. “É um grande mérito destes estudantes, posto que, em 2021, tivemos a aplicação do Enem 2020 e vivemos como nação o ano mais severo e devastador da pandemia de Covid-19”.

Ele aponta que, além disso, existem as dificuldades no acesso à aulas remotas, o luto coletivo devido a passagem de centenas de milhares de pessoas e o desigual retorno às aulas presenciais entre alunos das redes pública e privada.

“Foram, entre outros fatores, determinantes para uma triste realidade: este Enem 2021 será o mais desigual da História. O com menos inscritos de todos os tempos e o que mais sofreu com interferências arbitrárias de natureza política e censuras indevidas”, afirma o professor.

Jorge conta que as provas aplicadas em janeiro de 2021 apresentaram um nível de abstenção recorde, “sinalizando que a porta de entrada de milhões de brasileiros e brasileiras para a Universidade Pública fechava-se”.

Ele declara que, como educador, diante das declarações do Ministro da Educação, Milton Ribeiro, e do presidente Bolsonaro, é necessário acolher os estudantes para que não tenham medo e que não duvidem de seus próprios esforços.

“A demissão em massa de importantes servidoras e servidores do INEP [Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira] deve servir de alerta para o avanço da censura e do cerceamento de liberdades democráticas fundamentais”, diz o professor.

“Não acredito que a fala de Bolsonaro e as recentes e infundadas acusações de Milton Ribeiro em relação a crise no MEC [Ministério da Educação] passem de bravatas para causar um sentimento de pânico e desviar a atenção de fatos latentes como a crescente da fome entre população mais pobre, o desastre da pandemia no Brasil com mais de 600.000 mortes precoces  e a crise econômica que assola a nação”, complementa Lôbo.

Por fim, ele ressalta que a prova estará a cara do Enem como previsto em edital, em sua Matriz de Referências e nas leis que regem o ensino no Brasil. “Acredito que a cara do Enem e sua integridade foram preservadas graças ao trabalho de servidoras estáveis, que puderam brecar os interesses antidemocráticos dos políticos e acredito que os estudantes podem fazer uma prova semelhante à que estão acostumados”.

*Estagiárias sob a supervisão da editoria