20 de novembro: antirracismo e cotas sociais

20/11/2021 12:18 - Blog do Celio Gomes
Por redação
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Racismo estrutural. O Brasil é racista na origem. Os séculos de escravidão fazem do país um caso de anomalia definitiva. Anomalia em nosso caráter, em nossa mente, em nossa alma. No conjunto da obra da formação dessa gente brasileira mora a segregação. A cada Vinte de Novembro, alguma coisa avança. Sejamos otimistas. Episódios de discriminação ocorrem com uma frequência banal, como aparece em vídeos gravados em vários estados. Sendo realista.

Fato é que algumas verdades incômodas precisam ser lembradas sempre. É uma forma de expor as esferas públicas – e o mundo privado também, é claro – para combater práticas racistas com a firmeza que a causa exige. As instituições devem atenção prioritária às chamadas políticas afirmativas. O maior exemplo são as cotas.

Sobre aquelas verdades que incomodam: Ministério Público e Judiciário são a prova material da existência do racismo estrutural. Não tenho os dados agora, mas sabemos que a quase totalidade desses planetas é branca e macha. Existem coisas que são da natureza, estão aí desde que o mundo é mundo. O racismo é diferente, é uma construção histórica.

Sobre as cotas, vamos ler uma informação de 2019: Pela primeira vez, há mais pretos e pardos no ensino superior público no Brasil do que brancos, mostram dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística”). Isso é um trecho de reportagem na Folha de S. Paulo, de dois anos atrás.

O mesmo texto da Folha explica o seguinte: “Um dos fatores aos quais o IBGE credita esse avanço é o sistema de cotas, que reserva vagas a candidatos de determinados grupos populacionais, além de programas de apoio e expansão em universidades federais”. Aqui, ao contrário de agora há pouco, a prova material da superação do vexame. Ao menos em parte.

A adoção de cotas para acesso à universidade é uma conquista civilizatória. Mas isso foi bater no Supremo Tribunal Federal, o que mostra o tamanho da intolerância. E da discórdia. O STF tomou uma decisão para além do cientificismo. E não deu bola a argumentos diversionistas que contestam as cotas com a fábula da Meritocracia.

Vinte de Novembro ficou mais urgente nos últimos anos. Dia de agitação e festa em todas as regiões. As maiores capitais estão com programação variada pra toda a semana. A gang miliciana do Alvorada e do Planalto odeia odiar tudo isso. Sergio Camargo na presidência da Fundação Palmares não me estimula nem a esculhambar.

União dos Palmares. Serra da Barriga. Alagoas. A história toda passa por aqui. Fernando Henrique Cardoso subiu a serra em 1995, nos 300 anos da morte de Zumbi. Lula veio em 2003. O tempo passou, as coisas pioraram. O presidente é um racista desses que se expõem com orgulho.

A impostura presidencial faz barulho, dissemina falsidades e influencia camadas sociais. Mas perdeu essa parada. A seita Bolsonaro não controla a agenda, não consegue abafar a pauta. Cada vez mais, ações afirmativas se impõem na vida de todos, nas empresas, em qualquer tipo de ambiente coletivo.

Antirracista. Esta talvez seja a palavra que mais combine com a data de 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. 

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