General Calheiros comanda linha de frente do presidente Lula

12/05/2021 14:58 - Filipe Valões
Por redação

O cenário político nacional tornou-se uma guerra e não é de hoje. Vários frontes, vários “exércitos”, um só objetivo: vencer as eleições de 2022. Mas, embora tenhamos muitos envolvidos, muitos interesses, o embate está polarizado entre bolsonarismo e o lulopetismo. Isso, ninguém pode negar.

Com a sucessão de eventos recentes, da tragédia da pandemia do Coronavírus à surpreendente reviravolta que trouxe o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva de volta ao jogo político, mudaram campos de batalha, mudaram combatentes, mudou o próprio rumo da tal guerra.

A condução do Governo Federal diante do avanço da Covid-19 tem sido inegavelmente polêmica, desde o início, em fevereiro de 2020. Discordâncias e rejeições aos protocolos recomendados pela OMS, negacionismo, incoerências, idas e vindas, que fornecem aos opositores a munição necessária para atribuir a culpa de tudo que estamos vendo ao presidente Jair Bolsonaro.

No âmbito econômico, a população sofre os efeitos da instabilidade. Aumento do desemprego, pequenos e médios empreendedores desesperados, colapso de setores, redução das políticas públicas de auxílio. Mais uma vez, o presidente da República está no centro das atenções, criticado pelas ações, condenado pelas inações.

Portanto, Bolsonaro tem deixado de ser um oponente, tornando-se um alvo. Existe descontentamento, revolta, angústia e, eventualmente, acusações. Existe a necessidade de soluções, a gravidade da situação torna-se cada vez maior e alguém tem que responder. Eis que bem ali do lado está Lula, seus apoiadores, parte da população que rejeita Bolsonaro e um surpreendente novo/velho combatente…

Renan Calheiros, recém-indicado relator da Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga possíveis erros, falhas e crimes na atuação do Governo Federal frente à pandemia, representa uma “ofensiva” que trilha o caminho da legalidade, utilizando meios institucionais para encontrar formas de, literalmente, atingir Bolsonaro onde pode causar mais danos.

E que ninguém se engane, o potencial para danos é gigantesco, basta ver a reação de Jair, de seus filhos e de seus aliados. Tentaram de tudo para impedir a CPI, tentaram de tudo para impedir que Renan assumisse a relatoria, estão tentando de tudo para defendê-lo nas sessões da Comissão.

O próprio presidente Bolsonaro chegou a ligar para o governador Renan Filho, na esperança de conseguir sensibilizar Renan Calheiros, obviamente pelo temor do que essa CPI poderia causar. Isso é um indicativo fortíssimo do impacto que a mera ideia de uma CPI da pandemia causou no presidente.

Pelo que temos visto nas transmissões ao vivo da Comissão, o apelo não funcionou. O senador Renan está em modo de ataque, usando ao máximo suas prerrogativas de relator, também seu inegável conhecimento da Constituição, do regimento do Senado e, claro, de suas décadas na política. A cada depoimento, Calheiros consegue acuar e desestabilizar alguns depoentes, extraindo respostas até mesmo na ausência de respostas concretas.

E se nesse fronte vemos um avanço em tom de ofensiva, do outro vemos outra surpresa. Lula não perdeu tempo desde que foi solto e teve seus direitos políticos restaurados. Mas, ao invés de atacar diretamente Bolsonaro, escolheu outra estratégia. Luís Inácio partiu para a articulação, a diplomacia e a recuperação de sua imagem junto aos líderes globais.

Claro, aqui e acolá, cutuca e alfineta o atual presidente, com alguma declaração de impacto que ecoa a insatisfação e a revolta da população assustada com a instabilidade econômica e, mais ainda, pelo trágico número de mais de 400 mil mortos pelo Coronavírus.

Essa escolha é das mais acertadas, afinal, a expectativa era de que Lula voltaria para uma revanche, porém o que ele tem demonstrado é uma conduta preocupada com o problema comum, a pandemia. Usando a reputação que adquiriu durante seus dois mandatos como presidente do Brasil, o petista conseguiu abrir diálogo, transmitir convocações, acenar com a possibilidade de ser um “diplomata” brasileiro mesmo sem ter nenhum cargo ou função do tipo. Lula está usando a comunicação para construir sua ofensiva.

Nesse exato momento, Jair Bolsonaro está sem saber pra que lado levanta suas defesas. Ele se vê assustado com as possíveis sanções que a CPI possa gerar, tendo em Renan Calheiros seu oponente direto. Observa indefeso enquanto Lula amplia novamente sua esfera de influências, mobiliza aliados e se reergue politicamente, sem desespero e sem “aperreio” como dizemos aqui no nordeste.

Renan em posição estratégica, com todos os recursos à disposição de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, apoiado sobre a indignação de parte cada vez maior da população.
Lula se reerguendo, restabelecendo bases de apoio, adquirindo “artilharia” política, contando com apoio de seu eleitorado, mas também de quem está descontente com o momento atual. 

O ex-capitão e hoje presidente sempre gostou de se descrever como um militar pronto para o combate. Será que ele tem alguma estratégia contra dois ataques simultâneos, por vias diferentes, com dois oponentes do nível de Lula e Renan Calheiros?

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