O silêncio  que o isolamento social espalhou em meu espírito, nos últimos seis meses, permitiu  a escuta de sons dissonantes que reverberavam barulhos n'alma.  Barulhos ensurdecedores  que faziam  mal e se vestiam de  coisas e gentes. Aos poucos  fui me desnudando , expulsando as contradições emocionais que, às vezes, a gente chama de  amor.

A pandemia me ensinou que querer bem  tem que fazer bem para a alma da gente. Se não faz, o melhor é pôr os pés na estrada e seguir a história.

Eu continuo seguindo a história com o olho aguçado nas descobertas, no tempo do agora.

O silêncio  e a solidão  da pandemia (encarei  viver eu-comigo durante os últimos 6 meses)  em um ritual de desapaixonazição  de muitos e tantos apegos, desses romantismos bobos de que novos seres humanos iriam surgir após o eclipse.  

O mundo tem uma porção bem grande de maldade , meu bem.

Esses longos tempos de clausura cimentou ,em mim, uma tristeza abusada, investigativa (que não tem nada  a ver com depressão). Uma tristeza que, também, gargalha , mas, cisma de lembrar das mediocridades e hipocrisias humanas.

A cesta básica distribuída com a foto do político para aplacar fomes e "lembrar" do santo, na hora da eleição.

A tal da  felicidade ególatra postada em redes virtuais, ignorando dores milenares e alheias.

Essas gentes que vendem até a própria mãe para ter poder. O poder  a qualquer preço.

A clausura forçada  abriu brechas para alimentar  reservas com uns e tantos  humanos.

Dessas gentes que  se escondem por traz de gestos, palavras e caras bonitas. Incrível, como a manipulação do afeto é fato nestes tempos de carinhos comercializados.

Não sei se  minha alma deu uma boa regenerada, mas, d'uma coisa tenho certeza:  estou em auto-gestação, esmiúçando caminhos de auto-encontro.

Para amar outra pessoa urge o auto-amor.

Fui acompanhando os movimentos do mundo. Senti saudades ( ainda sinto?), não de pessoas em si, mas, de momentos icônicos. Um deles foi o aconchego na casa da Laurita Mourão, lá para bandas do Rio de Janeiro.  

Para muito muitos a pandemia foi/é  um hiato, que não enxerga pontes.

Eu, no meu avexame (sim, vivo com pressa e o tempo é sempre hoje),de logo chegar, tento construí-las.

Não é fácil, mas continuo tentando.

Mas, quer saber? A  melhor coisa da pandemia, em minha casa, foi a  aglomeração. A espiritualidade todinha me fez visitas constantes, se não fosse isso, não teria suportado.

Atotô, meu velho, grande conselheiro, Babá tão amado.

Abenção, Obaluê!