Trabalho intenso, muitas vezes até exaustivo e sem o apoio das empresas. É assim que se define o trabalho dos entregadores de aplicativo. Na semana passada, eles chegaram a realizar um protesto em algumas cidades do país e pediam melhores condições de trabalho.
 
O Cada Minuto conversou com dois entregadores para saber como funciona a rotina deles e como eles têm se virado nesse momento de pandemia.
 
Manuela Cecília, de 30 anos, sai de casa por volta das 14h e só retorna às 23h. Trabalhar fazendo entrega não era o que Manuela fazia antes da pandemia, mas como ela é professora de música e percussionista e está sem trabalhar, essa foi a solução encontrada por ela.
 
Ela não trabalha todos os dias. “Eu rodo de quarta a domingo”, disse. Mas a rotina é bem cansativa. “Ao todo, eu trabalho umas 10h por dia”.
 
“Eu tô trabalhando com isso tem pouco mais de 1 mês. Não é minha profissão, e nem pretendo adotar como sendo. É um jeito de me virar na pandemia, já que não tá tendo trabalho”, explicou Manuela.
 
Sobre as condições de trabalho, Manuela contou ao Cada Minuto que “ela que se proteja” e que não há vínculo empregatício com o aplicativo.

“Então eu que tome meus cuidados de saúde e de segurança, eu que me vire com os prejuízos”, reforçou Manuela. 
 
Por semana, Manuela tira de R$ de 200 a 250. “E eles descontam 20% do valor de cada corrida”.
 
Na pandemia, ela precisou reforçar os cuidados e está utilizando máscara e álcool em gel. “Praticamente me banho e banho a moto inteira com álcool”.
Um desafio que Manuela tem encontrado é o de ser mulher e trabalhar com entrega. Ela relatou que passou por uma situação que desencadeou nela uma crise de ansiedade. “Quando fui fazer uma entrega em um prédio, tinha uma mesa com uns 8 caras bebendo e fazendo churrasco. A entrega não era pra eles. Mas quando parei a moto e desci, eles ficaram ‘tirando onda’, como se eu fosse assaltar eles, dizendo que eu era da gangue de um aplicativo”.
 
Ela disse que um dos homens ficou falando em tom de malícia com ela: “Vem cá, moreninha…traz pizza pra gente, a gente racha pra você”.
 
“Foi horrível. Eu subi, deixei o pedido, e na volta o mesmo cara falou de novo "vem cá, morena.. vai vir não?", contou. “E todos ficaram rindo no tom bem malicioso”, acrescentou.
 
Sobre o protesto que ocorreu na semana passada, Manuela enfatizou que os entregadores estão na linha de frente e que garantem conforto de quem não precisa sair de casa e se expor para ter seus produtos. “E ganhamos um valor irrisório por corrida, não temos nenhuma garantia de segurança, nenhum tipo de seguro. Qualquer coisa que aconteça com a gente, é responsabilidade nossa. Não temos vínculo nem com o App, nem com o restaurante e nem com o cliente”, finalizou.
 
Eddy Atalaia, de 29 anos, também concordou que as condições de trabalho são mínima e que em alguns casos, os entregadores ficam na rua. “Ficamos na rua esperando o pedido ficar pronto. Alguns estabelecimentos ainda deixam um lugar pra gente ficar aguardando, mas normalmente ficamos na rua, no sol, na chuva”.
 
Ele usa uma moto para fazer as entregas, mas disse que o valor de quanto ele ganha, varia. “Algumas semanas são melhores que outras. Mas por semana, se você trabalhar saindo de casa de manhã e voltando pra casa umas 21h, você tira uns R$ 100 por dia”.
 
Eddy também falou sobre o protesto da semana passada e disse que não existe apoio de nenhuma empresa, ou sindicato, que apoie os entregadores para que os direitos sejam estabelecidos. “Somos autônomos, trabalhamos para nós, mas dependemos de um aplicativo para trabalhar e ter nossos ganhos, apesar de termos a nossa autonomia, não podemos escolher o quanto vamos ganhar nas corridas, isso é estabelecido pela plataforma”.
 
Segundo ele, as empresas ganham com o trabalho com os entregadores. “Elas mandam e desmandam, e ditam a taxa que eles querem. E outra, temos que aceitar as corridas, pois se rejeitar, você fica com “punição”, ou seja, em dia de baixa demanda, dificilmente você receberá mais pedidos, você fica com ‘rejeito’”.