Propina, corrupção e governo Bolsonaro

16/01/2020 18:15 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
Image

O sujeito tem cargo de alto escalão no governo e, ao mesmo tempo, recebe dinheiro de empresas que mantêm contratos com o... governo! Onde você já viu isso? Pois não é que essa delinquência ocorre justamente com a gabaritada equipe do presidente Bolsonaro! É tedioso ter de ouvir os garotões da direita extrema exaltando a honestidade de seus gurus na política. Pena que, para eles, a realidade seja implacável na destruição dessas fantasias. Escrevo isso após mais um caso de probidade no âmbito federal.

Reportagem da Folha de S. Paulo mostra que Fabio Wajngarten (foto), chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, é dono da FW Marketing, empresa que mantém contratos com emissoras de TV e agências de publicidade. O rapaz é sócio majoritário do negócio, com 95% das ações. Os outros 5% são da mãe dele. O conflito de interesse é pra lá de evidente.

O chefe da Secom no governo Bolsonaro é o principal responsável pela distribuição da verba publicitária. A encrenca é que os clientes do governo contratam a empresa do rapaz. Ou seja, o cidadão de bem atua em duas frentes no manejo das verbas públicas. É um escândalo em todas as dimensões possíveis – mas ele jura que tá tudo dentro da legalidade. Acusa perseguição política!

Entre os contratantes da empresa do chefe da Secom estão a Record, o SBT, a Band e a Rede TV. São as quatro emissoras que abraçaram o governo do capitão da tortura. Os chefões do quarteto televisivo – Edir Macedo, Silvio Santos, Johnny Saad e Marcelo Carvalho – rastejam pelo apoio do presidente. Nesses veículos, jornalismo é apenas sinônimo de puxa-saquismo e fake news.

No ano passado, a secretaria sob o comando do senhor Wajngarten liberou nada menos que 197 milhões de reais em campanhas. Uma das agências que meteram a mão em parte dessa grana é a Artplan. A agência recebe do governo federal e paga à FW Marketing, que é a empresa do secretário. Em outras palavras, ele repassa dinheiro público para seus financiadores privados. A jogada perfeita.

E o que diz o “mito”, aquele que seduziu os rapazolas que seguem Jesus e adoram uma pistola para garantir a segurança da família cristã brasileira? Nada. Ou melhor, diz que o secretário fica no cargo. “Se foi ilegal, a gente vê lá na frente”, explicou Bolsonaro confrontado pela safadeza explícita de seu homem forte da comunicação. Entendi. O bolsonarismo sabe tudo de legalidade e transparência.

Agora imagine se essa pilantragem fosse de algum desafeto dos ilibados “conservadores”. Eu acho até cansativo ter de escrever o óbvio ululante. Mas vamos lá. O papo de combate à corrupção é, e sempre foi, uma lorota para embalar a carreira de santos do pau oco. É assim desde que o Brasil é Brasil. Para ficarmos no século 20, deu-se o mesmo no getulismo, com Juscelino e no golpe de 64.

Quando um elemento sai gritando “pega ladrão”, em nome dos bons costumes e da honestidade, pode apostar que é um bandido da pior espécie. Sergio Moro? Jair Bolsonaro? Marco Feliciano? Flávio Bolsonaro? Generais ditadores...? É tudo porcaria do mesmo naipe. Recorrem ao carcomido discurso, do mais rasteiro moralismo, para enganar otários e arrastar fanáticos que precisam de heróis.

O caso revelado agora pela Folha, não se pode esquecer, não é algo inédito na tropa de Bolsonaro. Pelo contrário, este é um governo que protege corruptos. Ministros enrolados até o pescoço com esquemas mafiosos seguem no posto, como o do Turismo, Marcelo Alvaro Antonio. O grande escândalo das “rachadinhas” já é suficiente para desmoralizar a fachada de probidade da turma.

Mas o sujeito que adota uma seita, que bajula um “líder” ignorante e truculento, está disposto a tudo para proteger seu modelo de vida. É o que explica a constrangedora defesa que muitos ainda fazem dos modos de governar desse amigão de assassinos que trata o país como o terreiro de sua casa. É verdade que muita gente, assustada, caiu fora da barcaça miliciana. A realidade, às vezes, é cruel.

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..