O “jornalismo” inspirado em Papai Noel

26/11/2019 10:28 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
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O clima de Natal e Ano Novo já toma conta das redações brasileiras. A imprensa, sem exceção, dispara a artilharia com aquelas pautas pra lá de originais. É a salvação da lavoura para as mentes meio preguiçosas, que sofrem pra encontrar alguns temas a serem transformados em “reportagens especiais”. Para não variar, as televisões alagoanas já começaram a mostrar o “ritmo acelerado” nas fábricas de panetone. Tem a decoração típica, com destaque para a proliferação de luzes e árvores natalinas em tamanho gigante.

Também estão na praça as matérias que mostram o comércio, tomado por famílias inteiras em busca do presentinho para os seus. É uma boa janela para os comerciantes ganharem publicidade de graça. Se bem que há um critério próprio, no caso das emissoras de TV, na escolha das lojas que aparecem nas historinhas narradas por repórteres. São empresas “parceiras” dos grupos de comunicação.

Quando você assistir ao telejornal exaltando os preços e a variedade dos produtos, com animadas entrevistas dos donos do negócio, lembre-se: o cenário pode não ter sido uma escolha dos jornalistas – porque quem manda mesmo são os departamentos comerciais. Ah, quantas brigas eu tive com esses senhores quando estava à frente da redação da TV Gazeta! Os caras são trogloditas.

Mas talvez esteja me desviando um pouco da temática. Ou mais ou menos. É que a interferência comercial aumenta quando o assunto envolve marcas e mercadorias. É o que ocorre nesta fase do ano. Claro que, como os assuntos variam, boa parte das escolhas é da cabeça dos coleguinhas de profissão. E a cada ano as coisas ficam ainda mais repetitivas, tudo sob uma solenidade abestalhada.

Daqui a pouco estaremos recebendo, em forma de reportagem, todas aquelas “dicas” essenciais para escolher a roupa, a bebida, o tamanho e a forma das ceias natalinas. Vão nos ensinar também como devemos nos preparar para a maratona de festança. E lá vem a entrevista com a nutricionista.

Na linha dos preparativos, veremos as moças e rapazes especialistas em combinações para o traje ideal na virada. Afinal, como escapar da mesmice? Como celebrar o branco, mas sem parecer algo trivial? Nada como a opinião de oráculos em saias, vestidos, camisetas, acessórios e maquiagem.

Dezembro é tempo de salário extra. Não precisa se aperrear sobre o destino dessa grana. Nos próximos dias, economistas estarão passeando, de canal a canal de TV, explicando o que fazer com o 13º. Precisamos de um doutor em finanças pra nos alertar da urgência de nosso orçamento.

E finalmente, mas não menos importante, haverá uma série de reportagens sobre os muitos tipos de Papai Noel. Começa com o velhote descendo de um helicóptero em algum shopping center (olha o departamento comercial aí). Já as “cartinhas” dos Correios ainda resistem ao mundo da internet.

Quem é do ramo, desse meio inóspito chamado imprensa, sabe que grande parte dessas pautas está num arquivo que serve para resolver a demanda dos telejornais. É no piloto automático. Daí porque a repetição de temas, personagens e palavrório dos repórteres. Prepare-se. A tradição fala mais alto.

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