Os deuses do futebol, aquela caixinha de surpresas e o triunfo histórico do Flamengo

23/11/2019 22:01 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Gabriel Barbosa é o herói do jogo. Como autor de dois gols, num intervalo de apenas três minutos, é natural que assim seja. Não bastasse isso, a virada do Flamengo sobre o River Plate se deu na reta final da partida. Mas o cara que começou a escrever esse capítulo histórico do time brasileiro se chama Bruno Henrique. É dele a jogada magistral que resulta no empate. Naquela altura, parecia que ninguém mais acreditava que o time de Jorge Jesus escaparia da derrota. Foi bem mais difícil do que todos esperavam.

O Flamengo chegou à decisão com ares de favorito. Merecidamente. Pela campanha que fez – e pelas qualidades dos jogadores –, nossos comentaristas davam como certa a conquista brazuca. Como sempre, esqueceram de combinar com os russos – no caso, com os argentinos. Durante toda a partida, mas principalmente no primeiro tempo, o River matou o esquema do treinador português.

As subidas dos laterais Rafinha e Filipe Luiz, dessa vez, não resultaram nas jogadas de perigo. Pelo meio do campo, a reconhecida criatividade de Gerson, De Arrascaeta e Everton Ribeiro não apareceu. Com esse conjunto de erros, a bola praticamente não chegou para os atacantes, sobretudo ao Gabigol. O segundo tempo foi quase um repeteco do que se viu nos primeiros 45 minutos.

Mas eu tenho de falar sobre a ação dos deuses do futebol e das surpresas que aquela “caixinha” pode nos reservar – mesmo quando a gente tem certeza que a expectativa é pura ilusão. Volto então a Bruno Henrique. Como disse Paulo Vinicius Coelho, o PVC, na transmissão do Fox Sports, o jogador é especialista em inventar soluções absurdas. É uma precisa observação para o que ocorreu hoje.

No lance do primeiro gol, Bruno Henrique recebe a bola nas proximidades da grande área, pelo lado esquerdo, dá uma volta para escapar da marcação e avança. Entre o bico da área e a meia-lua, quatro defensores armam o bote para destruir a jogada. Mas, antes que qualquer um deles chegue no jogador, ele dá um passe extraordinário, daqueles que Nelson Rodrigues chamaria de sobrenatural.

Eu sei, o anjo pornográfico era torcedor fanático do Fluminense. Mas sua literatura genial – também sobre o futebol – transcende nossas preferências ordinárias. Quando o passe de Bruno Henrique chega a Arrascaeta, que vai tocar para o gol de Gabriel Barbosa, nossa impressão é de que é tudo muito simples, elementar. De repente, um toque fulmina um paredão que parecia intransponível.

E por que temos essa impressão? Qual o mistério? Aí entra o mérito do atacante. A arquitetura de simplicidade na jogada que resulta no primeiro gol do Flamengo decorre da escolha de Bruno Henrique, daquela “invenção” que não se explica. Ele é dono de um talento sem firula, é objetivo, vai direto no alvo. Em segundos, enxerga antes o que ninguém percebe. E muda tudo, muda o jogo.

A virada no fim, com o placar de 2x1 para o clube de maior torcida do país, resume o épico da conquista da Libertadores. Dito isso, acho que devo terminar com uma homenagem às multidões que idolatram o time do eterno Zico. Saúdo a todos na figura do camarada Fernando Coelho, que além de craque no jornalismo e na arte da música, é o flamenguista mais erudito do mundo.

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