Brasil regride às trevas da censura cultural

05/10/2019 12:18 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
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O presidente Jair Bolsonaro vai cumprindo com louvor uma de suas principais promessas de campanha: a censura oficial está de volta. Projetos culturais já aprovados em editais estão sendo cancelados porque não atendem aos princípios ideológicos do capitão da tortura. No governo do brucutu analfabeto, cinema, dança, literatura, teatro ou qualquer outra forma de arte devem exaltar os valores político-partidários do governo miliciano. Como se vê, está em prática a guerra ao “Viés Ideológico”. Alguém surpreso por aí?

É um clássico. Todo governo autoritário ataca a produção de artistas considerados “subversivos”. Para não ir muito longe, o país conhece bem esse tipo de perseguição e violência contra a liberdade de expressão. Como dizia Bolsonaro, ainda na campanha, um de seus grandes sonhos era voltar ao ambiente instalado a partir do golpe de 1964. Regredimos ao tenebroso tempo dos ditadores.

Primeiro foi o cancelamento de um festival de cinema no Ceará. Pelo que li, a seita do presidente que idolatra torturadores não gostou da temática dos filmes selecionados para o evento. Alguns dos trabalhos abordavam a realidade de pessoas transsexuais; outro contava a história de um casal formado por dois homens. “Ideologia de gênero”, relincharam os novos censores do século 21.

Em outro caso de cerceamento da livre criação artística, o governo partiu para o desmonte da Funarte. Dezenove servidores foram demitidos, sem qualquer explicação ou critério. Quer dizer, o critério é o mesmo, o de sempre, o único: impedir a circulação de ideias contrárias ao obtuso pensamento dos fanáticos e imbecis. A mistura de ignorância e truculência explica tudo isso.

O governo Bolsonaro se alimenta do ódio. É o ingrediente que não pode faltar na feitiçaria que os trogloditas levam a cabo. Mais que isso, é o verdadeiro oxigênio a garantir a respiração desses bichos escrotos. A turma odeia o mundo intelectual, o conhecimento, a ciência, as artes... Todas essas frentes, na cabeça de toscas autoridades, devem prestar continência à estupidez chapa-branca.

Para mostrar serviço aos chefes e deixar claro que é um puxa-saco exemplar, um elemento nomeado para a diretoria da Funarte achou por bem agredir a atriz Fernanda Montenegro. O desprezível serviçal, acreditem, se diz um cristão “convertido”. Segundo ele mesmo conta, sem medo do ridículo, mudou de vida após ser agraciado por um milagre. É sério! Daí sua paixão por Bolsonaro.

Outro caso de censura prévia acaba de ser revelado pela Folha de S. Paulo. A diretoria da Caixa Econômica Federal criou uma espécie de cartilha para barrar projetos culturais que não estejam de acordo com as ideias dessa confraria miliciana. Funcionários da Caixa Cultural, em todo o país, apontam intimidação pelos chefões. Quem não seguir a ordem de censura será demitido.

Agora vamos relembrar uma das piadas mais repetidas por garotões que se apaixonaram pelo estilo de “sujeito homem” que enxergam em Bolsonaro. Estou falando de uma turma que gosta de se vender como “cidadãos de bem conservadores”. Eles combatem o “marxismo cultural” e dizem defender a liberdade individual, sem a doutrinação dos comunistas. É a direita esclarecida.

É tudo lorota, está claro. Sempre foi. Estou esperando a passeata pela família e em defesa de Jesus, Nossa Senhora e anjinhos protetores da moral e dos bons costumes. A licença para matar pobres e negros já foi liberada por Sérgio Moro e Bolsonaro. E agora a censura de Estado é uma realidade escancarada. Como canta o subversivo paraíba Chico César: “Fogo nos fascistas”!

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