Pistoleiro Geral da República

28/09/2019 00:20 - Blog do Celio Gomes
Por Redação
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Rodrigo Janot (foto), o homem que comandou por quatro anos a Procuradoria Geral da República, provoca perplexidade generalizada ao confessar que pretendia assassinar o ministro do STF Gilmar Mendes. É chocante, de fato, mas arrisco dizer que não chega a ser uma completa surpresa. Nos últimos dois anos, neste blog, escrevi muito sobre o então chefe do Ministério Público Federal. Seus atos à frente da PGR atestam que o sujeito era mesmo um celerado – um estilo pedestre que aliás fez escola.

E que escola é essa? É aquela em que agentes da lei tratam como “firula” a obrigação de respeito à lei. Na mesma escola, os garotões do MPF atiram primeiro e perguntam depois. Também nessa Academia do Direito Criativo, os doutores do Ministério Público e juízes como Sérgio Moro tratam a defesa dos acusados como “showzinho” de advogados. A Lava Jato elevou esse tipo de abuso de autoridade à categoria de princípio metodológico de investigação. Deu no que deu.

Para quem age como se tudo lhe fosse permitido, atropelando a Constituição com escandalosa naturalidade, por que não eliminar um ministro que discorde de suas teses? É esse o espírito que tomou conta do país nos últimos tempos. Segundo esses cidadãos de bem, nada de direito de defesa, nada de respeitar o processo legal – o que importa é “salvar” o Brasil. Piada sem graça.

Na reta final de seu segundo mandato como chefe da PGR, Janot ainda tentou uma cartada vigarista para obter mais dois anos no cargo. É algo sem previsão legal, mas e daí? Se achando a dona do pedaço, o “potencial facínora”, como disse Gilmar Mendes, fez de tudo para esticar seu reinado no MPF. Sem sucesso, ele passou à condição de subprocurador e depois se aposentou.

O que deixa meio mundo estarrecido com a revelação do próprio quase homicida arrependido é a ampla gravidade de sua confissão. Como um elemento com esse caráter chegou a um dos postos máximos da República?! Quantas vezes ele teria tido o mesmo ímpeto de justiceiro? Autoridades no exercício de suas funções estiveram expostas aos desatinos de um meliante.

O caso é escabroso em todas as dimensões, mas um detalhe em particular chama atenção. O Pistoleiro Geral da República, como Janot foi rebatizado nas redes sociais, explica o motivo que o levou ao desejo de matar um ministro do Supremo: Mendes teria feito insinuações sobre a atuação de uma filha do então procurador-geral que trabalhava como advogada para empreiteiras.

E o que foi que o ministro falou de tão grave a ponto de enlouquecer o bandoleiro Janot? Ninguém sabe. E ninguém sabe porque não foi encontrado registro de nenhuma declaração de Gilmar Mendes sobre a filhota do justiceiro agalegado. Folha, Veja, Estadão, Globo – todos os grandes da imprensa vasculharam tudo em busca da suposta declaração de Mendes. E nada, zero.

Esse dado parece indicar que o procurador aposentado apresenta uma mentira como alegação para sua fúria quase assassina. E o homem vai lançar um livro com as memórias de seus tempos de PGR. Fico imaginando o grau de credibilidade do que está escrito nas páginas da loucura. Veja que coisa séria: por quatro anos, essa figura deletéria teve poder descomunal, sem freios.

Como chefe do MPF, ele apontou seu dedo sujo para uma penca de políticos, agentes públicos e empresários, sempre com o carnaval da imprensa seduzida pela ideia do linchamento geral. Nessa toada, condenava por antecipação qualquer um que representasse obstáculo a seus desvarios. Se Gilmar Mendes escapou da morte, muitos tiveram a reputação assassinada – mesmo inocentes.

O tema certamente ainda vai render muito. Como se sabe, o ministro Alexandre de Moraes determinou busca e apreensão em endereços de Janot. Ele também perdeu o direito ao porte de arma e não pode entrar no STF. É o mínimo a ser feito diante do que foi revelado. Fica a lição sobre os perigos de se elevar ao posto de herói da pátria qualquer cretino espalhafatoso.

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