Apolo De Carvalho,escreve:
"Sempre considerei Mugabe um panafropopulista , lia e observava com dissabor o apoio que ele recebia de gente negra sobretudo da Diáspora. Mugabe não me inspirava confiança tampouco simpatia. Fiquei contente quando foi deposto. Embora percebesse as condições (externas) que levam grandes líderes a se distanciarem do seu povo (e isso não é particular ao Zimbabwe), sempre olhei inquieto o mugabismo acrítico afrodiaspórico.
PORÉM, considero DESRESPEITOSA e MESQUINHA a forma como a notícia da morte do líder fundador da ZANU, que lutou pelo pela soberania do seu país, está a ser divulgada . Ao ler o titulo de alguns jornais, vêm-me logo a mente a forma desonrosa e humilhante como muitos líderes africanos foram tratados nos últimos momentos das suas vidas .
Penso particularmente nas imagens de Kadafi ensanguentado, desfigurado, quase nu e quando finalmente morto (ASSASSINADO) , teve o seu corpo profanado e exibido como trunfo de guerra.Tinha também posições criticas em relação a Kadafi. MAS, enquanto africano, senti-me profundamente insultado e humilhado com a forma como mesmo depois de morto, foi tratado.
Honrar os mortos não significa beatificar ou santificar a pessoa. Significa sim, reconciliarmo-nos, encontrar significados na sua passagem terrena.
Mugabe, pesem embora todas as contradições gravíssimas da sua vida no poder, é uma personagem importante da história africana. E nesta hora da sua passagem para lá do grande rio, é o seu amor África que deve ser lembrando por nós africanos-as.
O desrespeito em relação a sua morte de Mugabe , é um desrespeito para com toda a África e a sua Diáspora.
É certo que estamos habituados, a este tipo de tratamentos mesmo quando a vida é-nos arrebata do corpo. MAS, não permitamos que os nossos mortos sejam profanados.
Devemos entre nós, de nós e para nós num outro momento, tirar ensinamentos das coisas boas e graves deste doravante ancestral. A ferocidade branco-ocidental sempre usou, várias estratégias para estagnar e atrasar o despertar, a Renascença Africana. Quando não assassinavam, corrompiam, pressionavam, sufocavam , e quebrantavam grandes espíritos. Cabe a nós hoje, ver nos nossos ancestrais, não pessoas sacrossantas mas , arquivos cuja boa leitura nos guiarão, permitindo-nos dar uma outra continuidade à luta. Não repetindo os mesmos erros
Falar mal dos nossos, é algo que os ocidentais fazem bem melhor do que nós.
Que descanse, condolências ao povo de Zimbabwé
A África não é indiferente à vossa perda".