A Cidade Inteligente ou a Cidade da Mutreta

25/07/2019 15:00 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

No mesmo dia, duas notícias sobre Maceió me chamam atenção. Estava assistindo ao AL1, na TV Gazeta, quando apareceu uma senhora, apresentada como secretária-adjunta de Cidade Inteligente. Pelo que entendi do negócio, trata-se de uma invenção da prefeitura. Não ficou claro o que isso significa. A funcionária falou muito, mas explicou pouco. O principal era a propaganda.

Do palavreado chapa-branca, fica a mensagem de que a prefeitura está investindo em alta tecnologia, para que eu e você tenhamos serviços de um jeito que nunca se viu por aqui. É coisa de “primeiro mundo”. Estaremos em breve usufruindo de serviços públicos muito mais eficientes do que ocorre hoje em dia. Saúde, meio ambiente, educação... Vem aí um novo tempo.

Eis que no mesmo telejornal, vejo uma notícia com cara de denúncia grave: o chorume produzido no aterro sanitário está sendo descartado de maneira criminosa. Um telefonema anônimo levou a polícia ao local do crime. Carretas de uma empresa que trabalha para o município saem do aterro com uma carga de chorume e, ao invés de um destino adequado, a sujeira é jogada em canaviais.

Os motoristas foram presos em flagrante e levados a uma delegacia. Segundo as informações reveladas até agora, o material deveria ser transportado até Recife, onde haveria, aí sim, o devido tratamento. Várias dúvidas ficam no ar. Quem está de fato no comando da ação criminosa é a principal pergunta à espera de esclarecimento. A prefeitura, de pronto, está tirando o corpo fora.

A versão oficial é de que o município é vítima do malfeito praticado pela empresa contratada. De acordo com a versão do poder público, o aterro trata metade do chorume produzido pelo lixo. A outra metade é de responsabilidade desse grupo que recebe uma fortuna para executar a missão. O flagrante feito pelos policiais foi numa área de canavial na região da vizinha cidade de Rio Largo.

Temos então o seguinte quadro: Maceió deixa de fazer o serviço que deveria ser feito, frauda o contrato que prevê o descarte adequado desse troço e, não bastasse tamanho descalabro, ainda despeja a bagaceira em outro município. Cara, isso é gravíssimo. É assim que o aterro está sendo administrado pela prefeitura da capital? E desde quando essa operação pilantra está em prática?

Achei as explicações dos gestores bastante simplórias. As autoridades na gestão Rui Palmeira falaram apenas por meio de nota, com orações vagas e nada esclarecedoras. Cadê o prefeito? Está na cidade ou anda em algum compromisso mais importante por aí afora? Ele deveria convocar entrevista coletiva e se submeter a perguntas que exigem respostas urgentes. Está tudo esquisito.

O aterro sanitário é uma conquista tardia na capital alagoana. Demorou décadas para que finalmente saísse do papel e se tornasse uma realidade entre nós. Isso se deu na gestão de Cícero Almeida, o antecessor de Rui, mas não sem capítulos escandalosos – que ganharam até uma marca fantasia: quem não lembra da “máfia do lixo”? Pelo visto, a era do escândalo continua.

Muito bem. Precisamos saber afinal se a terra do sol e das praias está mais perto do conceito de Cidade Inteligente, como quer a publicidade da prefeitura, ou se temos de aceitar a dura realidade de vivermos na Cidade da Burrice e da Mutreta. Vamos aguardar por uma manifestação mais clara do município. E que a polícia investigue pra valer. O flagrante fala por si. É a ponta do novelo sujo.

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