Rio Largo: a terra de prefeitos cassados

18/07/2019 00:10 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

É muita comédia! Como vocês sabem, a Câmara Municipal de Rio Largo cassou o mandato do prefeito Gilberto Gonçalves. Segundo a lei, assume o vice. E aí entra o componente de chanchada no enredo político. É que a nova titular no posto será Cristina Gonçalves, que até esta quarta-feira 17 era a vice-prefeita. Ocorre que ela é casada com o prefeito cassado. Assim, fica tudo na mesma.

O Brasil passou as últimas décadas inventando uma reforma político-eleitoral atrás da outra. A cada dois anos, o tema volta ao centro das atenções no Congresso – e a cada temporada temos um pacote de novidades para regular as eleições. Além dos políticos, apita sobre o assunto meio mundo de doutores especialistas na matéria. Sem falar nos togados dos tribunais superiores.

Quando aparece uma notícia como essa de agora, em Rio Largo, somos lembrados então que, apesar do cipoal de artigos, regras, emendas e outras marmotas jurídicas, a esculhambação segue intocada. E nem adianta que autoridades recorram a firulas para justificar tamanha aberração. Como aceitar que o país ainda permita uma chapa formada por marido e mulher numa eleição?

Sabe-se que o Brasil tem uma Justiça Eleitoral como não se vê em nenhum outro lugar do mundo. A estrutura para tocar a rotina desse monstrengo requer um orçamento bilionário. É gente pra todo lado, cargos de todos os tipos e uma burocracia paquidérmica. E qual o resultado disso tudo? Lisura? Racionalidade? Equilíbrio de forças? Que nada! Eleição aqui ainda é arranjo familiar.

Agora vamos falar um pouco sobre o caso concreto. Não fiz pesquisa nenhuma, mas tenho a impressão que, nos últimos vinte anos, Rio Largo deve ser o município com o maior número de prefeitos afastados do cargo, seja pela Câmara ou pela Justiça. É uma sina dos infernos para a população do lugar, já acostumada ao que se vê, outra vez, nos dias atuais. Mudam só os nomes.

Para mim, Gilberto Gonçalves surpreendeu ao vencer a disputa de 2016. Digo isso por se tratar de figura carimbada, com um histórico de peripécias nada republicanas. Quando exerceu o mandato de deputado estadual, ficou marcado por um telefonema que veio a público em 2007, na chamada Operação Taturana, da Polícia Federal: “Eu quero meu dinheiro” entrou para a história.

Ainda assim, a população rio-larguense entendeu ser ele o nome ideal para cuidar dos destinos da cidade – e das finanças municipais. Ou é muita confiança no homem ou ninguém está nem aí para o currículo dos candidatos. A decisão que tira o mandato de Gonçalves – ainda que culpado – está mais ligada a jogadas políticas do que ao zelo pela gestão pública. Ali ninguém se salva.   

Claro que os vereadores se basearam em supostos atos ilegais do prefeito. Pelo que leio na imprensa, ele teria armado um bocado de maneiras para aumentar seu patrimônio. Haveria fraudes em série e nomeações irregulares para cargos na prefeitura. Derrotado por 10 votos a 1, resta evidente que ele perdeu a base na vereança. Difícil é identificar mocinho nesse teatro do absurdo.

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