Caso Sergio Moro: procurador Dallagnol agia como “laranja” e jagunço do juiz de araque

23/06/2019 01:14 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

O procurador do MPF Deltan Dallagnol foi apresentado ao Brasil como coordenador-chefe da força-tarefa da Lava Jato. Com esse título pomposo, ele se danou a aparecer em tudo o que era jornal, revista e emissora de TV, como o implacável justiceiro a serviço de uma missão sagrada: o combate sem tréguas à corrupção que tanto infelicita o país. A imprensa tratou de vendê-lo como um herói, uma espécie de Robin, a cara-metade do Batman – que era o suposto juiz Sergio Moro.

A fama repentina abriu ao procurador uma janela de oportunidades em termos financeiros. Passou a ganhar boladas com convites para palestras pelo país afora. Virou estrela em palcos patrocinados por bancos, multinacionais e grandes veículos de comunicação. Esperto, o rapaz logo apareceu como o produto mais vistoso no portfólio de uma empresa especializada em comercializar a fala de charlatões tão afamados quanto ele. Com a capa de cavaleiro da ética, virou referência na gandaia.

No auge de sua atividade, ou seja, a de encantador de plateias formadas por convertidos abestalhados, a empresa que o agenciava negociava o rapaz como o “procurador das bochechas rosadas que usa óculos de aro fino”. Parece piada, mas eram esses os belos atributos do menudo de Curitiba. Quem ainda não sabe disso, ou não lembra, basta uma pesquisa no Google. Está tudo lá, ainda que o farsante negue hoje o que fazia ontem. O faturamento de seu negócio é uma caixa-preta.

Pois agora sabemos, graças ao The Intercepet, que Dallagnol era o chefe da Lava Jato apenas diante dos holofotes. Nas sombras, no ambiente secreto do Telegram, o elemento exercia a função de “laranja” do então juiz Moro. Este sim, na prática, comandava a operação com métodos atualizados do velho coronelismo, aquele grupo que agia acima das leis, decidindo quem vive e quem morre, a depender de seus interesses – e de quem o coronel de ocasião desejava (ou não) “melindrar”.

Com tais premissas à luz do sol, o procurador deve ser conceitualmente classificado, reitero, como um laranja do magistrado-coronel. Ao lado dessa categoria, pode-se acrescentar que Dallagnol desempenhou o papel de jagunço – o que também explica as estripulias deletérias ao Estado de Direito. A dupla maquinou o tempo todo em proveito próprio, de acordo com aspirações políticas.

Como já está amplamente demonstrado – e negar as evidências é coisa de fanáticos pelos heróis de araque –, Moro dava ordens que eram obedecidas com a fidelidade clássica da jagunçada. Assim os processos da Lava Jato foram sendo arrastados por esses depravados do ordenamento jurídico. O caso do ex-presidente Lula é o suprassumo dos atos inescrupulosos que marcam o conjunto da obra.

Mas a questão central não é Lula, não é o PT, ainda que sejam esses os inimigos declarados do juizinho e seu capanga, como resta provado nos diálogos que o Brasil hoje conhece. As grandes vítimas dessa turma somos todos nós, são os valores da democracia. Violentar as regras do processo contra um réu é uma barbaridade de alcance incalculável; é destampar, aí sim, a panela do diabo.

Moro (o poderoso chefão) e Dallagnol (o pistoleiro) cometeram um crime hediondo, porque rasgaram a Constituição e trataram as regras legais como se não valessem nada. O certo é o que eles decretam que é certo, e errado é o que os dois decidem que errado está. Não há meio-termo, não há ressalva a esse arranjo de pilantragens perpetrado por ambos. Que paguem por suas safadezas.

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