Sergio Moro não queria “melindrar” FHC: ministro fala hoje ao Senado sobre a Vaza Jato

19/06/2019 03:14 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Ah, não sei. Acho questionável, pois melindra alguém cujo apoio é importante. “Alguém” aí é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. E quem fala isso é Sergio Moro em 2017 numa conversa com o procurador Deltan Dallagnol. A dupla trocava impressões acerca de eventual investigação sobre o tucano mais badalado da República. De cara, Moro se mostra empenhado em preservar o político de quem ele diz ter apoio “importante”. Esse é o juiz imparcial de Curitiba expondo sua ética particular.

As conversas entre o agora ministro da Justiça e o procurador das “bochechas rosadas” estão na mais nova reportagem do The Intercept Brasil, divulgada pelo site na noite desta terça-feira. O conteúdo traz mais elementos que atestam a postura criminosa daquele que deveria agir como um magistrado – mas atua simplesmente como um militante de toga. Moro conduziu um processo viciado desde o início. Está devidamente claro que foi a política o combustível da Lava Jato em todas as frentes.

A investigação sobre FHC – que naturalmente foi deixada de lado – seria sobre “doações” da Odebrecht, depois que o nome do tucano foi citado nas delações da empreiteira. O site mostra também conversas entre procuradores, sem a participação de Moro, nas quais eles temem ajudar Lula caso se avance numa apuração a respeito de Fernando Henrique. Até agora, em tudo o que saiu pelo Intercept, essa era uma fixação permanente nas hostes da Lava Lato: tinha de pegar o petista.

Atarantado com o bombardeio da já histórica Vaza Jato, Moro inventa uma fábula diferente por dia na tentativa de explicar o inexplicável. Uma de suas alegações mais enfáticas é a de que os métodos para se obter as gravações foram ilegais – e logo não podem ser consideradas. É o contrário do que dizia quando grampeou Lula e Dilma e vazou a conversa entre os dois, mesmo sabendo ser um ato fora da lei. Não importa, disse o ministro outro dia na Globo: Assim: “Grave ali era o conteúdo”.

Prova ilegal não pode ser levada em conta pela Justiça. É o que sustenta agora, portanto, a força-tarefa do Ministério Público Federal. Então vejam que bonito: o projeto das tais “dez medidas contra a corrupção” – que o MPF tentou enfiar goela abaixo do Congresso – diz textualmente que prova ilícita obtida de boa-fé deve ser usada no processo contra o réu. Os maiores entusiastas da proposta foram justamente Moro e Dallagnol. Usaram as redes sociais para pressionar os parlamentares.

Nesta quarta-feira, o ministro Moro tem audiência marcada na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Será ouvido pelos senadores sobre toda essa avalanche de informações que jogam sua reputação no lixo. Ele aposta na mobilização das hordas bolsonaristas pelas redes sociais, para tentar escapar da forca. É uma alternativa desesperada, que aliás põe o ex-juiz na condição de um aprendiz de populista mequetrefe, do nível de seu chefe. Mas ele tem cara de pau para vestir o modelito.

Para quem vivia flutuando, feito um herói acima do bem e do mal, a estratégia de Moro já é uma degradante adesão à banda podre da política. Ele negocia naquele ambiente tão familiar à porcaria do presidente a quem serve – refiro-me ao notório e consagrado “baixo clero”. Vamos ver o que o sujeito terá coragem de contar na CCJ do Senado. Seja como for, seguirá exposto em praça pública aos capítulos que ainda virão pelo trabalho do jornalista Glenn Greenwald e equipe. É só o começo.

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