Caso Moro é um teste para a imprensa

13/06/2019 11:07 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

The Intercept Brasil. Glenn Greenwald. A história brasileira nunca mais esquecerá esses dois nomes. O jornalista americano se tornou, na última década, um especialista em casos de repercussão mundial. E veio, pois, de um gringo o maior furo de reportagem que a imprensa brasileira viu nos últimos tempos. Sim, antes de qualquer coisa, trata-se de jornalismo puro o que temos na praça. O The Intercept mostra a todos, jovens e veteranos em redações, como é que se faz a coisa certa.

Digo isso porque a tática de Sergio Moro, Deltan Dallagnol e seus porta-vozes é atacar a fonte da notícia, alegando que foram alvos de um hacker. Com isso, pretendem fazer da publicação das mensagens indecentes um crime do qual eles seriam as vítimas. O esforço para criminalizar o jornalista é a prioridade absoluta dos bandoleiros da Lava Jato. E nessa investida, contam com apoio de peso da TV Globo. Resta saber até quando, uma vez que a situação piora, muito, a cada novo dia.

A cobertura da Globo, de domingo até agora, vende a versão de que há um implacável “ataque” aos heróis da Lava Jato. Nessa toada, apontam para o site que publicou as conversas. Uma das últimas tentativas de inventar uma explicação é dizer que os diálogos “podem ter sido montados”. É uma comédia que não fica em pé. Segundo Moro, “não há nada de anormal” na bandidagem revelada.

Estadão e O Globo vão quase na mesma linha que a emissora carioca, mas menos engajados. Em editorial, o jornalão paulista pediu a renúncia de Moro. O mesmo pode-se dizer da Veja, embora a pegada na revista não seja tão parcial como tem sido a da TV Globo. Como a batata tá assando, com muitas revelações a caminho, o ex-juiz Moro, cabo eleitoral de Bolsonaro, ainda respira por aparelhos.

Um sinal que deve atormentar Moro & patota é a opinião de influentes jornalistas e articulistas na grande imprensa. Independentemente da orientação do veículo em que escrevem, as vozes que condenam a postura do ministro e do procurador formam uma avalanche. Gente que se mantinha em silêncio, ou que até então apoiava os doutores, detona a safadeza desmascarada.

O escândalo protagonizado pelos vigilantes da moralidade alheia é um teste e tanto para o jornalismo no país. A coisa tá feia. O desafio para o distinto público é separar o que é relevante daquilo que não passa de fumaça produzida por quem pretende enterrar os fatos criminosos. Mais uma vez, a Folha de S. Paulo trilha o caminho virtuoso, longe da versão chapa-branca.

Fora disso, claro, temos as redes sociais. É nesse mundo que a turma de Bolsonaro tenta vender a ficção de que Moro sempre foi um juiz imparcial. Condenou Lula sem provas, manipulou dados da investigação para beneficiar um candidato e, depois da eleição, virou ministro do presidente que ajudou a eleger. Para os padrões de uma certa “nova direita”, maior imparcialidade, impossível.

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