Diretores do aeroclube agora se escondem
Falantes no dia em que o avião caiu, Abinadab Silva e Jefferson dos Santos Silva, diretores do Aeroclube de Alagoas, se recolheram ao mais profundo silêncio. Na segunda-feira 27, horas depois do acidente com a aeronave que matou o cantor Gabriel Diniz e os pilotos Abraão Farias e Linaldo Xavier, a dupla vendeu a fantasia de que o cantor estava de “carona”. Era uma tentativa de esconder a prática de táxi aéreo – o que o avião não poderia estar fazendo. Aquele era um voo ilegal.
Os diretores que tentaram emplacar a versão da “carona” viram o enredo inventado por eles desabar em menos de 24 horas. O pai de Gabriel Diniz e o pai do piloto Abraão Farias disseram com todas as letras que houve o aluguel do monomotor para a viagem entre Maceió e Salvador, ida e volta com o artista. Nos dois textos anteriores trato dessas declarações com mais detalhes. A locação teria saído por pelo menos 4 mil reais. Mas o avião deveria ser usado apenas para voos de instrução.
Os diretores do aeroclube que bancaram a fantasia apareceram na TV Gazeta e no Jornal Nacional, da TV Globo. Como falei, eles contaram a lorota ainda na segunda-feira, dia do acidente. Desmoralizada a ficção, não querem mais dar entrevista. A direção da empresa diz agora que só se manifesta por meio de advogados. Ainda assim, segundo a TV Gazeta, não houve retorno ao pedido de esclarecimento sobre as declarações dos pais das vítimas – que desmentiram os diretores.
Viajar numa aeronave que não tem autorização legal é um perigo e pode acabar de modo trágico. Foi o que ocorreu, por exemplo, com o jornalista Ricardo Boechat, que morreu em fevereiro deste ano após a queda do helicóptero em que viajava. Também nesse caso, era um voo irregular. Para fugir dos custos obrigatórios, as empresas fazem o transporte de passageiros sem a devida licença para o serviço de táxi aéreo. Uma economia que termina tendo o custo máximo de matar vidas humanas.
Agora, vejam, aquele que dribla uma regra pode estar atropelando outros requisitos obrigatórios na atividade que exerce. Será que o Aeroclube de Alagoas cumpre tudo certinho, dentro da lei, na rotina com suas aeronaves? Boa pergunta para a Agência Nacional de Aviação Civil, que já suspendeu os trabalhos por lá. As nove aeronaves também foram interditadas e não podem sair do chão. Resta esperar que as investigações esclareçam tudo – e que isso sirva para prevenir novos acidentes.
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