Acordos do tempo da velha política

13/05/2019 19:18 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Jair Bolsonaro e Sergio Moro fecharam um “compromisso” segundo o qual o ex-juiz da Lava Jato será nomeado para o STF pelo presidente da República. O ministro da Justiça parece não ter gostado muito dessa informação. Em palestra nesta segunda-feira, o chefiado desmentiu o chefe. Moro garante que não impôs condições, muito menos uma eventual nomeação ao Supremo, ao aceitar o convite para integrar o governo. Dizem não haver hoje muita sintonia entre o capitão e o xerife.

Ao que parece, Moro viu a declaração intempestiva de Bolsonaro como fator de complicação para seus planos. Os projetos do cabo eleitoral que usou a toga para interferir na disputa em 2018 são dois. O mais modesto é mesmo a tal cadeira entre os 11 da nossa corte máxima da Justiça. Mas o grande sonho do homem é a cadeira do próprio Bolsonaro. Depois de tudo o que ocorreu (ou deixou de ocorrer) em sua superestimada gestão, Moro teme pelo fracasso ainda tão cedo. Está tudo em casa.

A política é assim. Os magistrados, as lideranças nacionais, o grande empresariado, os mais diversos setores e corporações, todos travam negociações permanentes. A base da coisa balança às vezes para um lado, depois para outro, mas a essência não muda nunca. Existe, claro, a influência natural das circunstâncias. Novidades, algumas pra valer, outras meramente cosméticas, interferem nos acordos e decisões. Mas o acordado e o decidido nunca desmentem o DNA desse mundo.

O senador Flávio Bolsonaro, o filhote do presidente flagrado naquelas operações criminosas com o emblemático Queiroz, “denuncia” ser alvo de perseguição política por parte do Ministério Público. Vejam que esse tipo de defesa é o mesmo sacado por petistas nos casos da Lava Jato. E é o mesmo comportamento que bolsonaristas sempre apontaram como típico de corruptos que não têm como se defender.  Flávio não quer esclarecer nada – ele quer arquivar as investigações. Nova política.

Muita zoada em quatro meses de governo dos cidadãos de bem. Entre outras coisas, o presidente declarou guerra aos radares em rodovias e aos fiscais do Ibama. Ele também decidiu explodir as universidades públicas, cheias de orgia e balbúrdia de maconheiros. O Ministério do Meio Ambiente quer devastar florestas para destravar o nosso desenvolvimento. Escola boa é escola sem partido e com polícia no pescoço de professores e estudantes – tudo para evitar a proliferação do comunismo.

Tem ainda a paixonite por uma pistola no Brasil das milícias. Misturo os dados, os ambientes e os atores do grande circo nada místico da política. É só um recorte. A sensação quanto ao imediatismo brasileiro é de um cenário um tanto tedioso, apesar daquela zoada. Um dos fatores que explicam essa (in)disposição, como franco atirador, é o nível dos caciques e pajés nas tabas. Entre os mais toscos estão os de elevados cargos, no topo decisório. “Bando de maluco” é elogio pra tudo isso daí.

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