Pela cidade, descaso, política e rebelião

08/05/2019 02:53 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

1. Uma cidade entregue praticamente à bagaceira. Entre promessas, desculpas e ações de meia-sola, boa parte de Maceió sofre com uma prefeitura que anda meio perdida. Toda a orla lagunar da capital, ali na região entre os bairros da Cambona e do Trapiche, continua tomada por um verdadeiro lixão. Como se sabe, existe um megaprojeto de revitalização da área, mas isso ainda está mais para uma miragem do que para algo concreto. Após interdição de uma das vias, a realidade ficou pior.

2. Em entrevista ao grande Lula Vilar, meu colega de blog aqui do lado, o vice-prefeito de Maceió, Marcelo Palmeira, bateu no governo do Estado por, segundo ele, não ter “ação efetiva” no bairro do Pinheiro. Achei estranho. Aquela parte da capital vive um drama sem precedentes na história da cidade. Vidas inteiras estão sendo duramente afetadas pelo afundamento do solo – o que forçou a expulsão das famílias. Tudo o que não precisamos nesse caso é de proselitismo e jogada eleitoreira.

3. A sede do Comando Geral da Polícia Militar de Alagoas cai aos pedaços, literalmente. Com medo de uma tragédia, o governo estadual acaba de interditar uma rua lateral ao prédio. Na verdade, a PM precisa mudar logo de endereço, antes que seja tarde demais. Pelas informações de um laudo oficial – revelado pela TV Gazeta –, a velha construção está condenada. Um antigo motel foi alugado, o aluguel está sendo pago há vários meses – e nem sinal da transferência. Brincam com o perigo.

4. Reportagem no CADAMINUTO informa que o procurador-geral de Justiça, Alfredo Gaspar de Mendonça, move ação para anular uma lei de São José da Tapera que garante pensão a viúvas de ex-prefeitos. Certíssimo! Algo assim é uma afronta à população alagoana. Preocupado com princípios republicanos, o Ministério Público Estadual bem que poderia atacar os casos de nepotismo cruzado. A proliferação dessa anomalia por aqui rendeu até ampla reportagem na Folha de S. Paulo. A ver.

5. Para acertar algumas contas, como água, luz e telefone, acabo visitando casas lotéricas no centro de Maceió. É sempre uma experiência inusitada: existem seis ou sete caixas, mas nunca, nunca mesmo, estão todos abertos ao público. No máximo você encontra funcionários em três daquelas cabines, e olhe lá. E os caras ainda expõem o número do Procon, para o caso de reclamação dos clientes... Fico pensando se o órgão de defesa do consumidor já viu tal situação. A vida é uma piada.

6. Uma noite dessas, por iniciativa do camarada Coelho, corremos ruas e pontes pra visitar o velho roqueiro Miro, amigo nosso que mora no bucólico Riacho Doce. Naquele recanto, que já apareceu na dramaturgia da Globo, vejo que as muitas vias que margeiam a avenida (algumas ladeiras) estão abandonadas pelo poder público. Soube que a maioria consta na prefeitura como asfaltada, mas o que se vê é pau, é pedra, é buraco e é lama. Moradores esperam por serviços há décadas.

7. Por falar no litoral norte de Maceió, aquela região é alvo da mais violenta especulação imobiliária de Alagoas. As construções de prédios residenciais avançam pela areia das praias, o que deixa em pânico os mais antigos habitantes. Além desses, tribos poeticamente antenadas, por assim dizer, estão mobilizadas para barrar o negócio do cimento e do concreto. A galera mais aguerrida parece estar na mitológica Garça Torta. A meta é tornar o bairro patrimônio histórico. Na paz, é guerra!

8. Perambulando aqui pelo bairro, à procura de um lugar para comprar algum elixir psicodélico, paro numa pequena mercearia, devidamente protegida por grades. Enquanto espero minha vez para ser atendido, vejo o rapaz vender duas carteiras de cigarro de marcas que até então não conhecia. Descubro rapidamente que são os famosos “importados do Paraguai” – um tipo de comércio que autoridades deliram que podem combater. A vida real, nas quebradas, é mosaico de rebeliões.

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