Por que Bolsonaro precisa de inimigos

23/04/2019 16:52 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

A estratégia de cultivar inimigos no jogo da política é tão anacrônica quanto recorrente. Jair Bolsonaro está aí para provar que a prioridade em seu governo é atacar adversários – mesmo que esses adversários sejam apenas invenções do pensamento bolsonariano. Denunciar o tempo todo a ação de forças ameaçadoras distrai a imprensa e, sobretudo, reforça o sentimento de fidelidade na seita supostamente sob ataque. É sempre mais fácil acusar o outro do que explicar o próprio fracasso.

Com esse ideal de guerra na cabeça, Bolsonaro responde a qualquer coisa apontando para sabotadores imaginários. Vejam o caso do professor Olavo de Carvalho. Passam os dias e a influência do filósofo sobre o governo parece aumentar cada vez mais. O resultado é uma briga de foice entre os filhos idiotas do presidente e a ala militar no Planalto. Nesse caso, pai e filhote aprontam as piores safadezas – e depois saem acusando a “imprensa suja” e o “comunismo que tanto mal fez ao país”. 

No patético episódio do aumento do diesel pela Petrobras, que foi desautorizado pelo presidente, viu-se um governo batendo cabeça durante vários dias, sem uma explicação séria e razoável sobre o acontecido. Nada. Ou melhor, o de sempre: está tudo certo na gestão federal; estão querendo tumultuar o trabalho do estadista brasileiro. Os fanáticos seguem lambendo as botas do “mito”.     

O racha entre olavistas e militares chegou no ponto máximo de tensão, ao menos até o momento em que escrevo isto aqui. Carluxo, o filhote mais assanhado nas redes sociais, agora dispara suas pilantragens abertamente contra o vice-presidente, Hamilton Mourão. O herdeiro errático do capitão não vê limites pra fazer valer o projeto de sua família. Ninguém está a salvo disso daí.

Diretamente do baixo clero, o inexpressivo deputado Marco Feliciano dá sua contribuição para a vigarice dos Bolsonaro. O pastor de almas perturbadas quer apresentar um pedido de impeachment contra Mourão. Tem o apoio, como se vê, dos aloprados trombadinhas – que se valem do laço de parentesco para detonar em Brasília. Público & privado sob as ordens da “nova política”.

O governo seguirá nessa toada, indicam todos os sinais emitidos pela gang amiga de milicianos. É por isso que resta clara a reincidente tática de buscar inimigos que sirvam de bode expiatório. Imprensa, esquerda, globalismo, universidades e “traidores da causa”, entre outros, estão na mira. Um dos alvos da hora, como se sabe, é o Supremo Tribunal Federal. Bolsonaristas querem mandar sem freios.

Até um dia desses, apoiador meio enrustido desse governo, o cineasta José Padilha pulou do barco. Em artigo na Folha, o diretor de Tropa de Elite fulminou o ex-juiz Sérgio Moro, aquele que, depois de servir de cabo eleitoral para Bolsonaro, ganhou de presente o cargo de ministro da Justiça. Padilha disse que o pacote anticrime apresentado por Moro é um tremendo incentivo ao negócio das milícias.

Ao dizer o óbvio, o cineasta saiu da ala dos amigos e se transformou em odioso marginal a ser abatido pelo exército de robôs do bolsonarismo que age no submundo da internet. É assim que a banda toca. Como disse, o espetáculo vai continuar, porque esse é o DNA da porcaria que hoje governa o país. Também por isso fala-se tanto na possibilidade de Bolsonaro não terminar o mandato.

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