O governo de Renan Filho e os “marmanjos” que assassinam mulheres todos os dias

14/04/2019 03:35 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

O assassinato de uma alagoana que morava no interior de São Paulo levou o governador Renan Filho a se manifestar sobre o crime de feminicídio. O corpo de Maria Elitácia dos Santos foi sepultado neste sábado 13/04, em Porto Calvo, cidade em que ela vivia, até se mudar. Ela foi morta a tiros pelo ex-marido. Imagens de uma câmera de segurança registraram a ação do assassino no meio da rua.

Na véspera do sepultamento de Elitácia, Renan Filho publicou o seguinte no Twitter: “Violência de gênero não é crime passional. O feminicídio cometido pelo marido da alagoana de Porto Calvo choca e revolta. Precisamos educar os meninos para o respeito, e punir com dureza os marmanjos que tratam mulheres como propriedade”. Em seguida, o governador falou de ações a serem adotadas.

Escreveu Renan Filho: “Aqui em Alagoas determinei à Polícia Civil que os feminicídios sejam investigados célere e profundamente, afim de que todos esses marmanjos que atentam contra a vida de mulheres sejam exemplarmente punidos. Vou endurecer ainda mais o combate a esse tipo de crime”. A fala do chefe do Executivo estadual é importante, mas precisa se concretizar em atos.    

Na própria rede social em que falou sobre o caso, duas seguidoras foram direto ao ponto ao comentar as declarações do governador. Uma delas postou o seguinte: “Governador, é um absurdo que as Delegacias da Mulher não funcionem 24 horas por dia e nem nos fins de semana, horários e dias em que comprovadamente há maior número de ocorrência de violência contra a mulher”.    

A outra seguidora, ao interagir com a publicação, reforçou a crítica sobre as delegacias inoperantes: “Fim de semana, os marmanjos enchem a cara de cachaça e ficam valentões. Além disso, a violência não tem hora pra acontecer”. As duas mulheres nos lembram de algo absolutamente óbvio – o que significa que elas estão cem por cento com razão. Se nem o básico existe, como enfrentar o drama?

É louvável que o governador venha a público para falar claramente sobre essa tradição hedionda que mancha o Brasil de modo inominável. No país em que eleitos em 2018 – e eleitores também – fazem até piada com a morte de seres humanos, e acham que feminicídio é invenção de esquerdista, merece elogio o fato de Renan Filho se pronunciar nos termos que acabo de citar. Mas é pouco.

Além da condenação aos “marmanjos”, o governo de Alagoas tem a obrigação de mostrar serviço pra valer. Se reconhece a dimensão dessa tragédia entre nós, então a autoridade precisa dar respostas à altura, com ações realmente capazes de evitar a recorrência de tamanha bestialidade. Noto que o governador, em sua fala na internet, dá ênfase à investigação do fato consumado. É o mínimo.

Sim, o feminicídio deve ser investigado com rigor, para que o homicida pague por seu ato abominável. Ocorre que nenhuma sentença vai reparar o que já está feito. Depois do assassinato, a terrível dor de uma família é para sempre. Como se diz nessas horas, nada do que se faça vai trazer uma vida de volta. O que a sociedade exige é que o Estado tenha meios de impedir o ato criminoso.

E nesse ponto, governador, sua gestão falha de modo lastimável – como de resto acontece em todo o Brasil. Até quando? Como falei, suas palavras devem ser vistas como relevantes, sem dúvidas, mas isso é nada se não se refletir em política pública permanente. Cadê o atendimento 24 horas por dia para as mulheres vulneráveis, que, na mira de machos assassinos, podem tombar agora mesmo?

É dever incontornável do Estado oferecer, com máxima agilidade, uma ampla rede de medidas protetivas a mulheres sob ameaça. O sujeito com intenções de matar a ex-parceira, por exemplo, tem de ser impedido de chegar perto dessa pessoa. Em Pernambuco, agressores de mulheres, potenciais assassinos, são monitorados por tornozeleira. A polícia sabe quando o marginal está por perto.

Alguma chance de Alagoas seguir o exemplo pernambucano, governador? A iniciativa do estado vizinho, tão simples, tem amenizado a situação. É apenas uma providência entre tantas que podem ser adotadas. Reitero: discurso, apenas, não resolve. Não me venham com homenagem no Dia Internacional da Mulher, com distribuição de flores uma vez por ano. Isso é apenas demagogia.

Termino com uma sugestão a Renan Filho. Já que o senhor se manifestou em rede social, mostrando sua indignação – que acredito verdadeira –, saia da internet e apresente algo de peso. Convoque entrevista coletiva e detalhe o que sua gestão fará para enfrentar esse extermínio da população feminina. Transforme essa causa em prioridade sagrada de seu governo. É o que todos queremos.

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