Bolsominions! Um texto de Fernando Coelho

12/04/2019 12:24 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Já sabemos o que acontecerá em breve – antes até do que se imaginava: os bolsominions se tornarão minoria. Só eles, os fanáticos, sobrarão após a debandada que já se iniciou.

Em síntese, penso que nem todo eleitor do milico sofre da insanidade do bolsonarismo. Defendo que parte expressiva dos eleitores votou de modo irresponsável ou distraído.

Quem foram eles? O velho cidadão cansado da corrupção e da violência urbana; o inocente inútil que entendeu errado os recados da vida; o ex-petista que acredita ter levado nos cornos; os isentões que ao fim pularam pra o lado errado do muro; e aquela figura meio tapadinha mesmo.

Para todos esses, desde que reconheçam a escolha desmiolada, pode-se até pensar em anistia.

O bolsonarismo é outra coisa. Uma espécie de demência decorrente de ranços, traumas e atrofias com generosas pitadas de psicopatia. Uma chaga cognitiva e comportamental que acomete tipos dos mais distintos e proporciona as mais bizarras combinações. Não teve educação que resolvesse. 

Para mim, um dos tipos mais chocantes é o antiesquerdista. O elemento não tolera a ideia de distribuição de renda no país considerado o mais desigual do mundo. Só há uma lei: a do mais forte. Meritocracia. Estado mínimo. Vassalagem ao mercado. O pseudo-aristocrata. Chumbeta do consumismo. Dondocas, velhos yuppies, hippies cansados, patricinhas e novinhos embasbacados com o próprio pau pequeno de classe média.

O antiesquerdista pode ser pobre também. Sabemos que o bolsonarismo é um fenômeno transverso e intraclasse. Contraditório? No Brasil, não. Por aqui, tipos mais humildes e a família assalariada das periferias também bateram panela com sangue nos olhos. Depois vibraram com a reforma trabalhista e agora torcem pelo estupro da Previdência. Um escândalo.

E há mais: o cidadão de bem que esperneia no front da liturgia. Com um apelo histérico, o lobo em pele de cordeiro mira a pauta de costumes. Nessa hora, carolas e evangélicos rezam o mesmo terço. É o sonho de viver na bolha do falso moralismo. Os bonzinhos que pagam o dízimo estão salvos; o resto vai direto para o inferno. Amor ao próximo uma tamanca. O elemento defende mesmo é a censura e o cerceamento das liberdades individuais. Educação é perversão, e arte é coisa do cão. O sistema financeiro livre e solto pode. A livre expressão, não.

Num grupo mais explosivo figura o machista-armamentista. Turma da pesada que manda bala em tudo que afronta sua moral de quinta categoria. Em geral perturbada, a cabecinha do sujeito revela contornos de misoginia e sexismo. Pode haver racismo também. Um dos mais violentos. Mimado, complexado, inseguro e maledicente. Apoia até a tortura. Um perigo.

Na maioria dos casos, o bolsominion surge da mistura desses padrões. Há o armamentista-evangélico-misógino, o ultraliberal-racista-homofóbico, o falso moralista-antiesquerdista-armamentista... E por aí vai.

Em comum, todos defendem o fim da corrupção, como se fossem paladinos da ética. Pura falácia. De honesta essa gangue não tem nada. Todo mundo conhece um bolsonarista que recebeu propina, que já pagou propina, que é cabo eleitoral de político corrupto, que trapaceou para se dar bem... A ficha corrida pode ser extensa.

Ao fim, a horda descerebrada deixará sua marca como uma minoria barulhenta e perniciosa, mas insípida e covarde, que influenciou circunstancialmente parte de uma população cansada e desinteressada em política partidária e escreveu com lama e sangue mais um capítulo da já maltratada história deste país. Felizmente, como previsto, as almas sebosas começam a sucumbir à própria má formação.

Sigamos em frente.

Fernando Coelho é jornalista, músico e poeta-compositor. De quebra, é mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco.

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