A ação intempestiva e até meio truculenta da Prefeitura de Maceió pegou todo mundo de surpresa. De uma hora pra outra, sem aviso prévio, sem negociação em qualquer nível, uma portaria autorizou a SMTT a barrar a circulação de veículos que fazem transporte intermunicipal de passageiros. A partir de agora, as vans teriam de despejar os viajantes nos extremos da capital, tipo a Forene - para quem chega a Maceió por aquela geografia. Deu-se uma confusão dos diabos. A portaria acabou suspensa pela Justiça após reação barulhenta da Arsal, a Agência Reguladora estadual. Temos aí, no resumo da coisa, para além da trombada administrativa, uma briga política misturada ao explosivo componente do interesse financeiro. Nenhum ineditismo por aí. Infelizmente.
Como se sabe, a SMTT, segundo as explicações do mauricinho que chefia o órgão, agiu motivada pela necessidade de evitar a ilegalidade que representa a circulação das vans pela cidade. Afiinal, se o serviço é intermunicipal, os carros não podem pegar passageiros nas ruas de Maceió. Era essa a acusação aberta feita pela prefeitura aos motoristas dos alternativos. E o município está tão convicto de suas prerrogativas, que saiu destruindo os pontos de ônibus destinados ao desembarque de passageiros que viajam do interior para a capital. Fez isso também sem qualquer informação prévia ou esclarecimento sobre suas decisões. Por isso falei de truculência na abertura do texto. Que virulência é essa? Foi algo fora dos padrões, que realmente chamou atenção pelo rompante.
Sim, preciso explicar o negócio do interesse financeiro. É simples. A espalhafatosa investida da prefeitura da capital decorre de conchavo com empresários de ônibus que exploram o transporte coletivo na cidade. Esse é um dos setores do campo privado, digamos assim, mais enganchados com a esfera pública. Concessões, contratos, tarifas, planilhas - tudo isso está sempre em certa ebulição. O lado mais deletério dessa tradição fica por conta do engajamento das empresas em campanhas eleitorais. É esse histórico de tabelinha entre público e privado que explica a extravagante ação de agora da SMTT. O município de Maceió agiu para defender não o passageiro da capital, mas o patrimônio financeiro de empresas de ônibus. Falta a mesma dedicação em outras áreas.
Do outro lado da briga, a engrenagem da Arsal não é lá nenhum exemplo de transparência. Aliás, o mandachuva da agência estava outro dia no meio de uma fogueira, apontado como demissionário. É outro setor, este no governo do Estado, a trocar a gestão técnica por maquinações em função de presepadas políticas. Seja como for, nesse caso, a lógica aparente dos fatos põe a Arsal do lado que seria o certo. É difícil defender o carnaval demolidor da SMTT. E, no fim das contas, o episódio despeja gasolina na briga entre o governador Renan Filho e o prefeito Rui Palmeira. Os dois vão se enfrentar no ano que vem, cada um com seu candidato à prefeitura da cidade. Também por isso, qualquer faísca aumenta a temperatura da guerra. O futuro próximo tende ao acirramento.
Voltando ao tumulto concreto com o transporte intermunicipal, por enquanto está tudo como era antes da portaria da SMTT. Mas a prefeitura garante que não tem acordo com a Arsal. Vai continuar brigando para banir os veículos que deixam os passageiros do interior em algumas áreas da capital. Repito: a causa que explica essa determinação vigorosa são os interesses econômicos de um setor específico, o empresariado do transporte coletivo. Ao recorrer a marretadas para demolir pontos de ônibus, o município acaba por revelar que estamos diante de um casamento pra lá de bem amarrado. Agora é esperar pra ver se haverá algum desfecho que tenha como maior beneficiado Sua Excelência, o cidadão. Porque fora disso, meu amigo, não passa de uma briga suja.