O cerco à democracia brasileira

17/03/2019 16:40 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

A falange de jagunços a serviço do governo Bolsonaro e dos abusos da Lava Jato está descontrolada. Pela internet, corre verdadeira campanha de achincalhes contra o Supremo Tribunal Federal. Tudo isso, claro, se dá como reação ao julgamento da última quinta-feira 14, quando o STF decidiu que casos de caixa dois devem ser processados na Justiça Eleitoral, incluindo outros crimes, como corrupção e lavagem de dinheiro, vinculados ao financiamento de campanhas.

Procuradores do MPF em Curitiba, com Deltan Dallagnol à frente, incentivam ataques ao Supremo, numa evidente tentativa de constranger e pressionar os ministros. É a estratégia adotada há cinco anos, desde que os celerados da república curitibana detonaram a investida cuja meta – afinal alcançada por eles – era pavimentar a ascensão da extrema direita ao poder. Prova maior disso é o engajamento de Sergio Moro na causa bolsonariana. O sujeito acabou ministro do capitão.

Aquela sessão do STF que enquadrou os cangaceiros da Lava Jato é histórica. Não apenas pelo resultado do julgamento, mas também pelas palavras do ministro Gilmar Mendes durante seu voto. Ele chamou procuradores de “gangsters” e “cretinos”. Disse ainda que a tal fundação privada que os garotões do MPF tramavam – para meter a mão em 2,5 bilhões de reais – seria um fundo eleitoral. Como já escrevi aqui, era exatamente isso o que a rapaziada queria. Foram desmoralizados.

Os pistoleiros das redes sociais não pretendem deixar barato. O caminho para tentar reverter a decisão do STF é apelar às massas linchadoras que estão sempre dispostas ao espetáculo de banho de sangue. A tática de Dallagnol & patota é recorrer às trombetas moralistas dos “cidadãos de bem” – esses que celebram a morte de Marielle Franco e são adeptos de milícias que torturam e matam nas cidades brasileiras. Em Alagoas, infelizmente, o Ministério Público Estadual se alinha à porcaria.

Não posso generalizar. No caso do nosso MP, o bolsonarista de coração é o procurador-geral de Justiça, Alfredo Gaspar de Mendonça. Ele divulgou nota para defender seus coleguinhas da Lava Jato e atacar o STF (você pode ler aqui no CADAMINUTO). É o fim do mundo. Quem deveria zelar pelo respeito às instituições, na defesa do Estado de Direito, faz o contrário. Mendonça, assim como tantos integrantes do MP no país inteiro, está de olho numa carreira política – o resto é firula. 

É por isso que o ministro Gilmar Mendes disse que tudo isso é, ao fim e ao cabo, “uma disputa de poder”. Lavajateiros e assemelhados usam o discurso do combate à corrupção como panfleto despudorado de campanha eleitoreira. Também como foi lembrado no julgamento do STF, o enfrentamento ao crime não pode ocorrer por meio de ações e métodos criminosos. Acontece que essa é a marca indelével nos processos sob as orientações da Lava Jato. É uma depravação.

Leio na imprensa que Regina Duarte, a atriz, discursa numa manifestação em São Paulo e, reparem que cabeça esclarecida, “exige” nada menos que a extinção do STF. A deputada Joice Hasselmann, líder de Bolsonaro no Congresso, vai na mesma linha e prega um golpe contra a justiça brasileira. Ora, é isso mesmo o que fazem os regimes truculentos, as ditaduras sanguinárias em qualquer parte do mundo. Parafraseando Leonel Brizola, estamos vendo as viúvas do arbítrio e da tortura.

Vamos ver até onde vai a guerrilha desavergonhada que prega o aviltamento das instituições em geral e do STF em particular. Como se constata pela manifestação do ético e valente chefe do MP alagoano, a democracia enfrenta insidioso e perigoso cerco – algo típico dos piores momentos na história do país. O Poder Judiciário deve deixar claro de que lado está. A decisão do STF foi bom sinal.

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