Olavetes e o pensamento pelo cachimbo

14/03/2019 01:21 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Finalmente livres do armário, os garotões da nova direita confundem conhecimento e inteligência com palavrões, bajulação ao governo Bolsonaro e baforadas num cachimbo. Tem um lado engraçado ver os meninos analfabetos imitando as poses e os trejeitos do escritor Olavo de Carvalho. O guru improvável, como disse a Veja, costuma gravar vídeos para as redes sociais sempre neste padrão: entre uma ideia e outra, fuma compulsivamente, toma café e geralmente se descontrola, aos berros.

Se as ideias do professor estão sendo bem assimiladas por sua legião de súditos, não se sabe; mas eles tentam imitar o mestre com uma dedicação comovente. Nunca vi tanto idiota adepto do tabagismo e de palavras de baixo calão como método para o debate intelectual. O pessoal do Terça Livre, aquele site craque em mentiras e ataques a jornalistas, ilustra esse modo de “pensar”.

Uma das marcas dos novos ideólogos do “conservadorismo” é a citação de obras e autores. É fácil. Basta repetir o que o guru recomenda; e, para expor erudição, uma passada pelo Google resolve. Lembra daquela fábula do sujeito que ouviu o galo cantar, mas não sabe onde? É isso. Uma gente tosca, que em pleno século 21 professa os “valores cristãos” combinados a preconceitos a granel.

Aliás, o catolicismo carola e intolerante também é inspirado nas ideias de Olavo. Assim como o amor ao cachimbo e aos palavrões, os rapazes da erudita direita vivem com um terço nas mãos, rezando por dias melhores e por um mundo livre do maldito marxismo cultural e globalista. Tudo isso, que fique claro, levando-se em conta as boas intenções da seita. Grave mesmo é a visível desonestidade.

Depois de Olavo, a turma adotou como segundo guru o palerma Ernesto Araújo, uma das figuras mais desprezíveis no governo amigo de milicianos. Araújo, cujo nome verdadeiro é Beato Salu, virou ministro das Relações Exteriores para – acreditem – restaurar a fé em Jesus e em Nossa Senhora. Com essa plataforma para o outrora respeitado Itamaraty, o Brasil passa vergonha mundo afora.

Olavo de Carvalho é um ótimo escritor, um típico polemista, no que o termo tem de melhor. Seus textos, publicados na grande imprensa (que ironia!) ao longo dos anos, e depois reunidos em livros, valem ser lidos e debatidos. O problema é que ele mergulhou numa espécie de universo paralelo.

Parece que a condição de celebridade turvou para sempre o juízo do professor. Para complicar, passou a ganhar dinheiro com suas aulas virtuais, ministradas justamente para uma horda que mistura bobalhões ignorantes e pilantras em busca de um discurso para se dar bem na velha política.

A eleição de Bolsonaro destampou a panela de aberrações travestidas de princípios ideológicos. Dois minutos de falatório dessa patota ou a leitura de duas linhas do que escrevem esses pensadores, e pronto: você confirma que não passam de um bando de embusteiros – armados e valentões.

Olavo de Carvalho entrou nessa de gaiato, se lambuzou na fama e acabou por virar símbolo de um momento degradante na vida brasileira. Uma pena. Como de burro não tem nada, sabe que seus alunos não resistem a um teste básico no ABC. Ele deve dar uma baforada... E se divertir pra danar!

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