O Brasil que mata inocente e exalta miliciano

10/03/2019 01:05 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Os primeiros dois meses e alguns dias de 2019 registraram diversos casos de abuso por parte de policiais militares, em diferentes regiões do país. Os episódios estão na internet para quem quiser conferir mais detalhes. O mais recente exemplo da truculência policial – com escandalosa afronta à lei – foi exibido neste sábado por emissoras de TV. Dois PMs do Maranhão levaram para uma delegacia dois meninos presos, acusados de tentativa de furto por moradores de um bairro.

O que mais chama atenção, além da ação ilegal dos militares, é a idade dos suspeitos. São duas crianças de nove anos de idade! Ainda assim, com as mãos amarradas, os garotos foram jogados na parte de trás de uma viatura, tratados como bandidos de facção altamente ameaçadora. Mesmo que tivessem cometido qualquer delito, jamais poderiam passar pelo que passaram nas mãos do aparato oficial. A dupla de PM, esta sim, cometeu crimes em série, previstos em códigos e estatutos.

Acertou em cheio aquele que pensou aí em alguma conexão entre esse tipo de ocorrência e Jair Bolsonaro. É uma ligação automática. Como todos sabem, temos um presidente que idolatra torturador e defende que policial tenha licença para matar impunemente. Os garotões da “nova direita” também seguem o guru nessas ideias vigaristas. A matança legalizada é o que prevê o projeto de Sérgio Moro, o juiz bolsonarista que virou ministro. Por aí, o PM na rua vai mandar bala.

Foi assim na ditadura instalada pelo golpe de 1964. A história famosa lembra que quando o chefe libera geral, o subordinado vai à guerra com autoridade para detonar, certo de que está legitimado pelos superiores. Ora, se todo dia o presidente prega violência, naturalmente haverá consequências em harmonia com a ordem do chefe. O Brasil bolsonariano despreza diretos humanos – isso é coisa de esquerdista corrupto que defende o Lula. Respeito à vida de todos? É mimimi de comunista.

Podem anotar: os casos de violência policial vão aumentar ao longo dos meses. Não bastasse um presidente adepto à prática abominável de tortura, governadores como os do Rio e de São Paulo agem para incrementar o banho de sangue – sempre, é claro, nas periferias, onde estão os suspeitos de sempre, pobres e negros. As eleições de 2018 consagraram as piores tranqueiras da política. Empolgados com o cheque em branco das urnas, estão doidinhos para puxar gatilhos a esmo.

Como já escrevi aqui, para gestores da área de segurança, planejamento e estratégia se resumem a sinônimos de extermínio. E estou falando, agora, de Alagoas. Embora seja especialista em produzir fumaça marketeira, o atual governo estadual repete, tediosamente, a mesmíssima “política” dos governos anteriores. No lugar de estrategistas ligados em Inteligência, comandantes da PM e secretários são escolhidos entre os “melhores” brucutus das corporações. O resultado está aí.

Numa situação dessas, a sociedade precisa contar com instituições como OAB e Ministério Público. O problema é que boa parte desses ambientes também parece seduzida pela ideologia da tortura e do fuzilamento – Bolsonaro tirou muito cidadão de bem do armário. Enquanto essa lógica do arbítrio não for atacada, os números da violência continuarão nas alturas. Pelas escolhas das últimas eleições, tragicamente vamos continuar matando inocentes e protegendo milicianos. É o novo Brasil.

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