Joice Berth escreve sobre o perdão do jovem negro, DJ Leonardo Nascimento, acusado pela mãe da vitima de ter matado o filho dela e preso injustamente...
" É impressionante a doutrinação cristã que lavou a mentalidade da população negra brasileira, criando uma legião de pessoas que sofrem da síndrome de pai João, aquele benevolente escravo que sempre perdoa seu sinhô e ainda agradece pelas migalhas da "bondade" branca.
Racismo não é emocional, é estrutural. É crime e mata. O DJ Leonardo Nascimento podia ter morrido. Pouco importa a mágoa ou ausência dela. Crimes precisam ser punidos de acordo com o que a lei estabelece.
Enquanto a negritude brasileira agir assim continuamos ensinando a branquitude que racismo é só um erro moral. Que é só pedir perdão pelo "equívoco" de achar que somos humanos de segunda categoria, do "equívoco" de achar que nossas vidas não valem nada.
Não é nobre perdoar quem quer te matar. É burro e irresponsável, porque o racismo atinge todo um grupo. Poderia ser um filho meu, poderia ser eu a acusada. Tanto faz. Podia ser qualquer negro, qualquer negra, a ter a vida destruída engrossando as estatísticas de genocídio. É desolador constatar a perfeição do crime racismo, aliviou perfeitamente a negritude, destruiu o orgulho e a autoestima e ainda ensinou a "bondade" do perdão cristão, nos induzindo a dar a outra face. Lamentável!
Cada vez mais eu concluo que o trabalho da militância anti-racismo deve ser no sentido de trabalhar a cabeça da negritude para que acorde desse transe e aprenda que há muita luta para que a branquitude, já que não nos enxerga como pessoas, ao menos deixem acesso livre aos nossos direitos como cidadãos."
Fonte: Joice Berth
Leia sobre o caso: http://desacato.info/apos-uma-semana-preso-por-engano-jovem-negro-confundido-com-bandido-e-solto/