Jair Bolsonaro e o Gabinete de Crise

27/01/2019 16:52 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Domingo de sol brutal em Maceió. Ao longo do dia, as notícias elevam o número de mortos na tragédia de Brumadinho (MG), onde o rompimento de uma barragem deixou dezenas de mortos e muita destruição. Uma das primeiras medidas anunciadas pelo presidente Bolsonaro foi a instalação de um Gabinete de Crise. É algo previsível em ocasiões tomadas por calamidades de qualquer tipo.

Em Alagoas, tivemos um Gabinete de Crise em período de explosão da violência urbana ou depois da enxurrada de 2010, para citar dois eventos de natureza amplamente distinta. Com esse mecanismo, as decisões para enfrentar os muitos problemas ocorrem de modo mais rápido e seguro. Em tese, o fluxo de informação em tempo real é um dos aspectos decisivos na coordenação do caos.

Ainda assim, como ocorre agora em Minas Gerais, há uma boa dose de confusão, forjada no desencontro de dados, o que gera acusações de parentes de vítimas. Acidente que envolve centenas de pessoas não tem como escapar dos momentos de tensão entre os que procuram desaparecidos e a fonte de tudo o que está acontecendo. Com o trauma e as incertezas, é algo automático.  

O ideal seria encontrar por aí um bocado de Comitês de Prevenção. Cuidar, com o máximo rigor, para detectar a tempo as causas de um eventual acidente. Mas é claro que isso é uma verdadeira utopia no país dos desastres anunciados. Acabamos de descobrir, após o arrastão mortal da barragem em Brumadinho, que são milhares de outras barragens um tanto perigosas Brasil adentro.

Medidas preventivas não combinam com a nossa cultura – é o que parece quando se passa em revista a antologia de casos que marcam a história do país. De embarcações aquáticas a edifícios de todas as alturas, acidentes ocorrem com uma frequência inaceitável. E o padrão é sempre o da negligência da véspera aliada à omissão diante das consequências trágicas desses episódios.

Em termos de meio ambiente, como sabem todas as criaturas de todas as florestas, o governo Bolsonaro chega para facilitar as licenças de exploração de vastas áreas. É promessa de campanha, compromisso com os grandes donos do agronegócio, além de outros setores – como justamente as mineradoras. O presidente acha que a fiscalização “xiita” atrapalha o desenvolvimento.

Com o desastre de Minas Gerais, estamos assistindo ao governo tentar readaptar o discurso predatório às demandas de proteção ao meio ambiente. É difícil, mas a vida real impôs o imprevisível. Tenta-se explicar a Bolsonaro que proteger a natureza é afinal de contas uma garantia à vida humana. Por enquanto temos de nos contentar com mais um Gabinete – rodeado por crises, na emergência.

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