Declaração de Bolsonaro sobre o Pinheiro provoca tensão política

26/01/2019 18:21 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Ao falar sobre a situação do bairro do Pinheiro, que apresenta afundamento do solo, com dezenas de imóveis sob a ameaça de desabar, Jair Bolsonaro provocou uma pequena crise com o governo estadual e, sobretudo, com a prefeitura de Maceió. Em entrevista a uma rádio de Brumadinho (MG), o presidente disse que as causas do problema decorrem da “mineração”. Foi uma surpresa.

Bolsonaro dava entrevista sobre a tragédia com a barragem da Vale, que deixa até o momento em que escrevo mais de 30 mortos, quando fez referência ao caso do Pinheiro. Na verdade, ele citou a situação ao dizer que o chefe da Defesa Civil Nacional estava na capital alagoana no trabalho de descobrir as causas do problema que alcança milhares de pessoas nesse bairro de Maceió.

Sem um laudo oficial, conclusivo, que aponte o que provoca as crateras nas ruas e as rachaduras em casas e apartamentos, o presidente da República não poderia dizer o que disse. Foi uma declaração irresponsável. Lembrou, mal comparando, aqueles anúncios bombásticos feitos por Bolsonaro sobre Imposto de Renda e IOF, e desmentidos às pressas por ministros e outras autoridades do governo.

As palavras do presidente têm consequências. O que se pode deduzir, com bastante lógica e sem forçar a barra, é que Bolsonaro tem informações privilegiadas, ainda mantidas em sigilo por razões que suponho sejam sensatas. A razão principal seria exatamente o ainda inexistente laudo definitivo sobre o aparente fenômeno geológico. Mas a Presidência, parece, dispõe de dados inéditos.

A pequena crise – talvez não vá muito além disso – começa com um mal-estar entre os governos. O prefeito Rui Palmeira se manifestou sobre as palavras de Bolsonaro com uma posição esperada: avisa desconhecer qualquer informação sobre se é mesmo atividade de mineração a causa do que ocorre no Pinheiro. Como se sabe, a Braskem explora o solo da região há mais de três décadas.

No vídeo que gravou acerca do caso, Rui Palmeira diz que a prefeitura está cobrando formalmente explicações da Defesa Civil Nacional e, por tabela (acrescento eu), do governo Bolsonaro. Fala o prefeito: “Se houver esse relatório dizendo que a causa é a mineração da Braskem, precisamos receber de forma oficial, e tomar as providências cabíveis”. A empresa nega responsabilidade.     

Se é a Braskem ou não a culpada pelo caos na vida de moradores de um bairro inteiro, que os fatos sejam esclarecidos logo. Nenhuma entrevista, nota oficial ou especulação decreta o que é ou o que não é realidade. O caso já se arrasta demais, sem nada de concreto nos estudos e perfurações feitas por equipes de especialistas. Aí vem o Bolsonaro, o presidente, e tumultua um pouco mais.

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