De pai pra filhote – e um conflito de interesses

10/01/2019 14:40 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

No Brasil dos novos tempos, o vice-presidente da República emplaca o filho num belo posto do Banco do Brasil, triplicando o salário do rapaz. Em defesa da promoção do herdeiro, Hamilton Mourão disse que ele era vítima dos governos do PT, que jamais reconheceram seu talento. Era tudo mentira. A imprensa acaba de revelar que Antônio Hamilton Rossell Mourão foi promovido oito vezes no período Lula-Dilma, entre 2003 e 2016. Como se vê, o bolsonarismo está mesmo mudando as coisas.

Por essas bandas alagoanas sobram exemplos de coronéis da política zelosos com o futuro de seus filhotes. Uma olhada rápida nos cargos da administração pública prova que o sobrenome é o principal requisito para uma boquinha na máquina oficial. Quando digo coronéis da política estou incluindo aí Judiciário, Legislativo e Ministério Público. É tudo ajeitado para contemplar o mais vasto leque de grupos e famílias da nossa elite amplamente ilustrada. Uma praga intocável.

Hoje mesmo, como informa o CADAMINUTO, o governador Renan Filho presenteou o advogado Carlos Alberto Pinheiro de Mendonça Neto com a presidência da Adeal – Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária. O jovem é filho do procurador-geral de Justiça, Alfredo Gaspar de Mendonça. Certamente é uma nomeação baseada na mais pura meritocracia. Não tenho informação para contestar a escolha do advogado para atuar no mundo da agricultura. Deve ter suas qualidades.

Mas a nomeação, com todo o respeito aos envolvidos, é nada menos que escandalosa. O chefe do Ministério Público Estadual tem como missão principal a fiscalização dos atos do Poder Executivo. Para tanto, sua isenção é algo não apenas recomendável, mas incontornável. Portanto, não combina com a boa conduta que um procurador-geral de Justiça tenha apadrinhados favorecidos pelo governador de plantão. Estamos diante de um caso clássico de conflito de interesses. Pode isso?

Para que o leitor veja a dimensão desse exotismo alagoano, imagine a seguinte situação: o que aconteceria se Jair Bolsonaro nomeasse ministro um filho da procuradora-geral da República, Raquel Dodge? Isso jamais vai ocorrer, porque seria o fim do mundo. A chefe do Ministério Público Federal estaria desmoralizada. Até numa republiqueta, esse grau de promiscuidade não poderia ser tolerado.

Por uma dessas coincidências da vida, o chefe do MP alagoano e seu filho são bolsonaristas convictos. Fazem parte da onda brasileira que exalta o “cidadão de bem” – muita honestidade e transparência na relação com a coisa pública. Os dois têm aspirações no âmbito da política e vislumbram as eleições municipais de 2020. Ê, Alagoas! Essa é a mudança que devemos festejar.

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