Açaí, laranjal e pé de goiaba

20/12/2018 17:30 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

A historinha daquela servidora que recebia salário do gabinete de Jair Bolsonaro para vender açaí em Angra do Reis nunca foi explicada pelo capitão. Ela era vizinha da casa de veraneio que o presidente eleito mantém no litoral do Rio. Com a verba da Câmara Federal, o sujeito bancava os negócios de sua amiga no ramo comercial. Flagrado, ele nega tudo e joga a culpa na maldita imprensa.

A tática de acusar a imprensa de perseguição é um clássico entre os pilantras da política brasileira. Bolsonaro, que é tão velho nessas traquinagens quanto os mais caquéticos na vida pública nacional, inventou todo tipo de conversa para explicar o inexplicável. Na verdade, suas práticas repetem a tradição consagrada em gabinetes legislativos, das Câmaras Municipais ao glorioso Congresso.

O motorista Fabrício Queiroz, que era uma mistura de assessor e segurança do senador eleito Flávio Bolsonaro, segue entocado depois do escândalo com salário de assessores parlamentares. Ele recebia dinheiro dos contratados do gabinete de Flávio na Assembleia do Rio e depois não se sabe a destinação dos valores. Os indícios apontam um esquema de arrecadação para os Bolsonaro.

Queiroz movimentou 1,2 milhão de reais em suas contas, numa ação classificada como “atípica” pelo Coaf. A revelação do caso vai completar duas semanas, sem que os envolvidos tenham apresentado uma mísera justificativa. Nesta quarta-feira, o ex-motorista tinha depoimento marcado no Ministério Público, mas não apareceu. Pelo visto, estão tentando amarrar os pontos de uma boa narrativa.

Falei nos indícios de arrecadação. Nesse emaranhado de safadeza apareceu até um cheque de 24 mil reais para a futura primeira-dama, a senhora Michelle Bolsonaro. O maridão da santa do lar disse que o cheque era para ele, que havia emprestado 40 mil reais ao assessor do filhote. Repare que o homem de confiança movimenta milhões, mas pega empréstimo de um trocado de 40 mil!

Vamos dar nome às coisas. Fabrício Queiroz é suspeito de atuar como “laranja” da família Bolsonaro, resolvendo os pepinos financeiros até da senhora Michelle. Com a pressão da denúncia, os novos donos do poder tentam se afastar do sumido Queiroz. Não dá: o elemento era frequentador assíduo nas churrascadas dos Bolsonaro. Em fotos, ele aparece, sem camisa, entre o capitão e filhos.

Sim, tudo isso também não passa de uma trama diabólica, patrocinada pela imprensa anticristã e globalista. Diante desse quadro deplorável, a assombração da futura ministra-pastora Damares Alves, que costuma encontrar Jesus em cima de pés de goiaba, não é nada. Expõe apenas outro aspecto extravagante da turma que vai governar o país: a potência intelectual dos escolhidos para ministro.

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