Renan Calheiros, o cacique sobrevivente

03/11/2018 02:29 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

O senador Renan Calheiros está nas páginas amarelas de Veja. Suas principais declarações na entrevista à jornalista Ana Clara Costa já foram destacadas aqui no CADAMINUTO. Escrevo sobre o assunto não por causa de alguma opinião específica do veterano político do MDB, mas motivado pelo título do breve texto de apresentação. Para a publicação, Calheiros é O Sobrevivente.

Ele sobreviveu lá na década de 1990, quando era o líder do governo Collor, que acabaria antes do fim, em 1992. Após anos longe de problemas maiores, o senador escapou de perder o mandato quando surgiu o caso de uma pensão familiar cuja fonte seria uma empreiteira. Em 2018 ele foi absolvido pelo Supremo Tribunal Federal. Ainda enfrenta outras acusações, em mais dez inquéritos.

Velha raposa, tão colado ao poder quanto as rampas aos palácios de Brasília, o alagoano saiu vitorioso das urnas e renovou o mandado de oito anos – ao contrário de outros medalhões enxotados pelos eleitores. Um dos grandes perdedores foi nada menos que o presidente do Senado, o cearense Eunício de Oliveira. Calheiros atribui sua vitória ao governo de seu filho em Alagoas.

A força de Renan Filho ajudou, mas não explica tudo. Em 2010, o cacique também perigava não se reeleger, mas acabou virando o jogo – que parecia mais difícil do que viria a ser a disputa deste ano. E oito anos atrás, ele não tinha um herdeiro no comando do Estado. Ao que parece, denúncias e escândalos não abalaram a confiança da qual ele desfruta no eleitorado do interior de Alagoas.

Um detalhe que considero até meio surpreendente é o fato de a própria Veja abrir suas nobres Amarelas a Renan Calheiros. No auge da crise que quase lhe cassou o mandato, a semanal teve papel decisivo no terremoto que se abateu sobre o senador. Ele reagiu com respostas duras às reportagens, mas, como se vê, não rompeu com os algozes – como alguns que não falam à revista.

Reconhecido até por inimigos como estrategista capaz de operar milagre mesmo em batalhas quase perdidas, o cacique costura acordos ao pé do ouvido, ainda que esteja com a faca no pescoço. É de sua natureza, aprimorada em quase quatro décadas de maquinações no xadrez da política. Se Romero Jucá volta pra casa, também abatido nas urnas, o alagoano sai fortalecido da eleição.

A grande tacada que o rei de Murici espera acertar em 2019 é a eleição para a presidência do Senado. Na entrevista à Veja, previsivelmente ele desconversa, se finge de morto, digamos assim. Sabe que a pior coisa a fazer agora é queimar etapas e se anunciar candidato pela imprensa. O gesto seria visto como atropelo e indício de salto alto pelos colegas do parlamento. Não combina.

Bem ao seu estilo, o senador vai atuar sem fazer zoada. É muita novidade em Brasília com a chegada de Jair Bolsonaro presidente. Jogando com um Senado de caras novas, Calheiros está disposto ao diálogo com os experientes e a jovem guarda, com a esquerda e a direita, com Deus e o Diabo. Foi assim em toda sua trajetória. Sobrevivente sim, coadjuvante nunca, ele espera a hora de atacar.

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