Tempos bolsonaristas

31/10/2018 14:51 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Na edição especial da revista Veja sobre a vitória de Jair Bolsonaro, uma das reportagens aborda os rumos do novo Congresso. E lá aparece o nome do senador Renan Calheiros como virtual candidato a presidente do Senado. Segundo a Veja, o alagoano trabalha pelo apoio de PT e PSDB para alcançar a façanha de comandar a Casa pela quarta vez. Não será nada fácil, mas a hipótese tem muita lógica.

“Essa negraiada vai morrer”. É o que diz um estudante universitário de São Paulo, num vídeo que sacudiu as redes sociais e provocou protestos. Na imagem, o rapaz aparece ao volante de um carro, vestindo uma camisa com a cara de Bolsonaro. O autor da frase, nota-se, está comemorando a eleição do novo presidente. De onde será que o jovem tirou esse pensamento?

Já uma jovem que se elegeu deputada estadual por Santa Catarina lançou na internet uma campanha que é a cara desses tempos: ela pede que alunos passem a denunciar professores que criticarem o presidente eleito. A futura parlamentar é filiada ao PSL, a sigla do patriota capitão da tortura. Na prática, a moça saca uma ideia que é traço típico em todos os regimes totalitários.

Tenho certeza que, em Alagoas, políticos e “cidadãos de bem” devem se inspirar na deputada catarinense. Sei que por aqui já existem zelosos pais de família querendo transformar seus filhos em soldados da pátria – serão delatores juvenis de todas as maldades que ouvirem contra o ídolo que será presidente a partir de janeiro próximo. Tudo isso, como se vê, é muito saudável na sociedade.

Quatro imbecis que estudam na USP posaram para uma foto, diante de uma mesa com duas placas. A primeira dizia o seguinte: “A nova era está chegando”; na segunda havia uma pergunta: “Está com medo, petista safada?”. Engraçado que o quarteto de vagabundos tenha escolhido xingar o petismo em sua versão feminina. O episódio também comemora a eleição de Bolsonaro.

“Vamos salvar a indústria apesar dos industriais”, disse Paulo Guedes, o ministro que terá poderes de sobra no governo Bolsonaro. A declaração revela o ânimo da turma que chegou lá. A reação do setor, claro, não foi nada boa. A coisa piora um pouco porque o presidente eleito confirmou que o Ministério da Indústria será extinto. A área ficará sob as ordens de Guedes num superministério.

Entre os jornalões, Estadão e O Globo ficaram em posições bem diferentes do lugar em que se posiciona a Folha. O primeiro assumiu, desde logo, sua adesão a Bolsonaro, num movimento que não surpreende ninguém. O diário da família Marinho ainda ensaiou alguma isenção, mas com Merval Pereira, entre outros, fica difícil. Não por acaso, Messias praticamente declarou guerra à Folha.

O melhor do dia foi Sergio Moro dizendo-se “honrado” com a intenção do presidente eleito de nomeá-lo ministro da Justiça. O juizinho imparcial da República de Curitiba informou que o virtual convite será objeto de profunda reflexão. Faz todo sentido. No governo de um brucutu, nada mais natural que um togado especialista em rasgar a Constituição. Um democrata no colo de outro.

As demonstrações de histerismo continuam depois da eleição, por todo o país. Vejam essa história dos adolescentes levados à Central de Flagrantes, em Maceió, porque estariam se beijando. Segundo a TV Pajuçara, eles foram “presos” na Escola Estadual Tiradentes, uma instituição da Polícia Militar. Se entendi bem, policiais da unidade estão ligados na defesa dos valores da família.

Novidades de um Brasil que será governado por uma patota de muita fé em Nossa Senhora, mas que adora mesmo um 38 ao alcance das patas – para acabar com essa bandidagem que apavora o cidadão de bem. Quando janeiro chegar, veremos muito mais. Regredimos de modo avassalador.

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